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DRT denuncia trabalho escravo em reflorestadoras


O trabalho escravo pode estar avançando no Paraná na mesma proporção que um dos principais setores do agronegócio estadual - a produção de madeira beneficiada e outros derivados de base florestal. A constatação é do chefe da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), Geraldo Serathiuk. Na segunda-feira, 85 pessoas foram encontradas por fiscais do órgão trabalhando em suposto regime de escravidão.

Elas atuavam em áreas de reflorestamento de pinus, no município de Tunas do Paraná, região metropolitana de Curitiba.Segundo Serathiuk, há um ano a DRT intensificou a fiscalização nas empresas do ramo. "Há situações até piores do que a verificada em Tunas", diz. Na cidade, foram encontrados empregados enfermos, morando em barracos de chão batido. Eles atuavam sem equipamentos de proteção individual, água potável e instalações sanitárias. Além disso, gastavam tudo o que recebiam (entre R$ 10 e R$ 15 diários) com alimentação e moradia - oferecidas pela própria empresa, cujo nome não foi divulgado.

O delegado aponta que o principal problema detectado nesse caso - e em grande parte do setor madeireiro - é a utilização do "gato", responsável pela contratação das pessoas por empreitada. Os "gatos" assumem uma espécie de terceirização da mão-de-obra, o que diminui as despesas para os empresários, mas na maioria das vezes acaba submetendo os trabalhadores a condições precárias. "São eles que tornam a nossa fiscalização difícil, muitas vezes perigosa", destaca o delegado. Para garantir que os fiscais voltassem ontem com segurança aos acampamentos em Tunas do Paraná, eles foram escoltados por policiais militares. À tarde, houve uma reunião entre diretores da empresa denunciada, membros da DRT e do Ministério Público do Trabalho (MPT). Os empresários assinaram um termo de compromisso, em que será feito um registro retroativo de todos os funcionários. Eles também serão instalados em um alojamento com melhores condições.

O secretário executivo da Comissão Pastoral da Terra no Paraná, Rogério Nunes, afirmou que a constatação de irregularidades trabalhistas no setor de base florestal reflete uma tendência nacional. Segundo ele, existem atualmente 25 mil trabalhadores em regime de escravidão no Brasil. "No ano passado, libertamos 3,2 mil deles, mas ainda temos muito no que avançar", diz. Já o presidente executivo da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal, Roberto Gava, garante que essa é uma prática incomum entre os empresários do setor. "Isso que foi exposto é um caso de polícia e precisa ser tratado assim", afirma. Ele admite, porém, que a mão-de-obra é quase sempre contratada por empreitada.

"São feitos acampamentos dentro de contêineres, embora a tendência seja conduzir os trabalhadores a alojamentos nas cidades mais próximas da obra." Gava destaca que as empresas de base florestal ocuparam a segunda posição no ranking de exportações do estado no ano passado. O volume de material comercializado para o exterior atingiu R$ 2,5 bilhões (contra US$ R$ 7,25 bilhões da soja e derivados). Só a exportação de madeiras compensadas cresceu 51% em 2004, em relação a 2003, ultrapassando R$ 1 bilhão, de acordo com levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Autor/Fonte: André Gonçalves - Gazeta do Povo




Eixos: Política e cultura dos direitos humanos