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Assassinos de missionária são condenados em Belém


Rayfran das Neves Sales, 29, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, 31, o Eduardo, foram condenados ontem à noite em Belém pelo assassinato a tiros da freira Dorothy Stang, em 12 de fevereiro deste ano, em Anapu (município localizado no oeste do Pará).O Tribunal do Júri, composto por quatro homens e três mulheres, decidiu pela culpa dos dois por homicídio duplamente qualificado (crime de mando e sem dar chance de defesa à vítima), segundo o artigo 121 do Código Penal. Fogoió, que atirou na missionária, foi sentenciado a 27 anos de prisão. Seu companheiro no crime, Eduardo, foi condenado a 17 anos. A pena máxima (30 anos) não foi aplicada pelo fato de Fogoió não ter antecedentes criminais e de Eduardo ter sido condenado por co-autoria. A defensora pública Marilda Cantal, que já defendia Eduardo, passou a defender o outro réu, Fogoió, que, no início do julgamento, dispensou seu advogado. Cantal, após a decisão proferida pelo juiz Cláudio Montalvão das Neves, que presidiu o júri, disse que vai recorrer das sentenças, pois ainda cabe recurso. A tese defendida pela defensora pública era a de que os dois cometeram crime comum, por se tratar de uma rixa com a freira morta, o que poderia condená-los a uma pena de sete a dez anos de prisão. Depois, no segundo dia do julgamento, a defensora mudou a estratégia no caso de Eduardo. Pediu a absolvição dele, pois, além de estar desarmado no ato do crime, o acusado teria tentado convencer Fogoió, na noite anterior, a não matar a missionária. Acusação Já a tese do promotor Edson Souza apontou para a formação de um consórcio de fazendeiros e grileiros da região para assassinar a religiosa, caracterizando o assassinato como crime de mando. O julgamento, que teve início às 9h da sexta-feira, durou 18 horas e 15 minutos e foi acompanhado por cerca de 200 pessoas na sala de audiência do tribunal, incluindo parentes da missionária. Também estiveram presentes a representante especial da Secretaria Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) para Defensores dos Direitos Humanos, a paquistanesa Hina Jilani, além do ministro interino da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Mário Mamede. Do lado de fora do tribunal, mais de mil pessoas puderam acompanhar o julgamento na sexta-feira, ouvindo os debates e depoimentos por meio de caixa de som. Ontem, havia 500. Contradição Na sexta-feira, a primeira parte do julgamento, que durou nove horas e 15 minutos, constou do depoimento dos acusados. Em alguns momentos, os dois caíram em contradição. Ao depor, Fogoió chegou a declarar que atirou na missionária para se defender, pois Stang tentou tirar um objeto de uma bolsa momentos antes de ser alvejada. Mas o outro réu, Eduardo, em seguida, declarou que a freira tirou da bolsa a Bíblia, quando leu um versículo do apóstolo Mateus, momentos antes de morrer. Ontem, no segundo dia do julgamento, a audiência foi marcada pelo debate entre acusação e defesa. Cada um teve três horas para tentar convencer os jurados. Por volta das 12h de ontem, Maria Raimunda Rodrigues, mãe de Fogoió, começou a chorar na sala de audiência após a acusação pedir pena máxima para seu filho. Ao ser questionada pelos repórteres, ela disse que havia recebido ameaças por parte da mulher de um dos acusados, Amair Feijoli da Cunha, o Tato, apontado como intermediário do crime. O juiz Montalvão determinou, então, que um policial militar ficasse ao lado da mãe de Fogoió enquanto durasse o julgamento. A mulher de Tato, Elisabete Cunha, não estava presente na audiência de ontem. Nascida em Ohio, mas naturalizada brasileira, a missionária Dorothy Stang foi abordada, no dia 12 de fevereiro, pelos dois homens quando se dirigia a uma reunião com agricultores na zona rural de Anapu (PA), cidade em que vivia. Foi assassinada, aos 73 anos, com seis tiros. Morando desde os anos 70 no Brasil, Stang trabalhava pela implementação de um PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) em uma área reivindicada por fazendeiros e grileiros. Outros acusados Segundo as investigações do Ministério Público e da polícia, os fazendeiros Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, e Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, foram os mandantes do crime. Amair Feijoli da Cunha, o Tato, que trabalhava para Bida, é acusado de ter atuado como intermediário entre eles e os pistoleiros. Todos estão presos. No sábado, apenas Taradão encontrava-se fora da cadeia. Permanecia internado em um hospital de Belém, onde foi submetido a uma cirurgia ortopédica. Foram levados ao júri popular apenas Fogoió e Eduardo. A data do julgamento dos outros três ainda não foi marcada. Autor/Fonte: Folha de S. Paulo - KÁTIA BRASIL DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM



Ações: Conflitos Fundiários

Eixos: Terra, território e justiça espacial