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Moradores ameaçados de despejo acampam em frente ao Fórum


Foto: Átila Alberti / Tribuna
Foto: Átila Alberti / Tribuna

 

Grupo diz que problemas com imobiliárias e incorporadoras ameaçam o despejo de ao menos 8 mil famílias em São José dos Pinhais

Fonte: Paraná online / Jornal de Londrina

Um grupo de famílias que vive um impasse que pode resultar em milhares de despejos está acampado em frente ao Fórum de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, em protesto desde o início da semana. Eles dizem que há pelo menos 4 mil ações na Justiça relacionadas ao caso, que envolve o pedido de revisão de contratos a imobiliárias e incorporadoras. Os manifestantes relatam que compraram terrenos há cerca de 20 anos e que, por causa de juros abusivos, não conseguiram honrar as dívidas.

O pedreiro Sidney Andrade é uma das pessoas envolvidas nessa situação e está sem saber para onde levar a família, ameaçada de perder a casa até a próxima terça-feira (9). Ele, há 11 anos, vive de trabalhos esporádicos. Sua esposa, Lucilene, trabalha como diarista, provê o sustento da casa e ainda ajuda na criação de dois netos. Um filho e a nora também moram na casa. “Não tenho para onde ir. Não sei o que fazer. Há dois meses soube que teria reintegração de posse do meu terreno e agora avisaram que será na terça-feira”, conta.

Sidney comprou o terreno em 1996, ingressou com seu pedido em 2003 e orientado pelo advogado que atendia seu caso, deixou de fazer o pagamento das parcelas. Ele comprou o terreno no Jardim Lúcia em 150 prestações com a primeira parcela em R$ 145,60. “Em 2003, quando paguei a última, já estava em mais de R$ 300. Não teria como pagar mesmo”, explica. O pedreiro conta que por conta do descaso do advogado, seu caso tomou proporções ainda piores. “Ele não foi e nem me avisou das três audiências de conciliação. O juiz entendeu que eu não tinha interesse, por isso saiu a ordem de desapropriação”.

Alguns moradores, como Maria Salete Vargas de Mello, já tiveram de deixar sua casa. No início da tarde, um oficial de justiça foi à sua residência pedindo que o local fosse desocupado. “Moramos eu, meus dois filhos, meu irmão e meu marido. Agora vamos morar de favor, na casa de outro irmão. Não temos o que fazer”, lamenta Maria Salete. Ela conta que pagou as prestações até 2004, mas depois de uma cirurgia do marido a família não teve mais condições de efetuar os pagamentos.

Lideranças falam em 8 mil famílias afetadas

A líder comunitária Claudete Menezes, que também briga pela revisão do contrato do terreno onde mora, afirma que apesar de terem sido ingressadas 4 mil ações na Justiça, são mais de 8 mil famílias lesadas.

Na maioria dos casos há duas ou três casas sobre cada terreno e muitas já perderam os imóveis. “Neste último ano já vimos quatro companheiros morrerem de infarto. Isso é por todo este problema. E vamos perder mais gente se não fizerem nada”, alerta.

Claudete conta ainda que o problema começou na década de 1990, embora alguns terrenos tenham sido adquiridos em 1986. Os imóveis eram parcelados em 150 vezes, mas as prestações que deveriam ser reajustadas com baixas taxas viraram um pesadelo para as famílias. Em poucos anos, os valores dobraram e muitos deixaram de pagar as prestações. “E se você deixasse de pagar a terceira, as imobiliárias já entravam com pedido de reintegração de posse, não queriam nem conversa”, explica a líder comunitária.

De acordo com Claudete, na segunda-feira (8) o grupo deve ter uma reunião com o prefeito, vereadores e representantes do Ministério Público para tentar solucionar o problema. “As famílias não têm para onde ir. Só queremos que alguém resolva isso. Só nesta semana foram oito reintegrações”, lembra. Representantes das imobiliárias foram procurados, mas não retornaram as ligações.

 



Ações: Direito à Cidade, Conflitos Fundiários, Empresas e Violações dos Direitos Humanos

Eixos: Terra, território e justiça espacial