Organizações do Brasil denunciam e parlamentares europeu pressionam Congresso brasileiro contra 'boiada'
Assessoria de comunicação Terra de Direitos
Uma carta assinada por 28 membros do parlamento europeu alertando sobre os riscos da flexibilização ambiental no Brasil foi enviada ao Congresso Nacional brasileiro na manhã desta sexta-feira (19). A carta – entregue aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Davi Alcolumbre (DEMB-AP) – foi construída após denúncias realizadas por organizações da sociedade civil brasileira, entre elas, a Terra de Direitos, durante um encontro com a parlamentar Anna Cavazzini, vice-presidente da delegação do parlamento europeu para as relações com o Brasil, no início de junho.
No documento, os parlamentes se solidarizam com a situação do país, e demonstram especial preocupação com a declaração do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobre a possibilidade da desregulação da política ambiental. No dia 22 de abril, durante uma reunião ministerial, Salles sugeriu que outros membros do governo aproveitassem que a imprensa estava focada na cobertura da Covid-19 para ir “passando a boiada” e “dar de baciada a simplificação” da política ambiental.
Além disso, a carta aponta a preocupação com projetos de lei como o 2633/2020, que legaliza a grilagem de terras da União ao permitir a regularização fundiária com base em auto-declaração, além dos projetos de lei 3.729/2004 e 191/2020, que busca flexibilizar o licenciamento ambiental e que permite a mineração em terras indígenas, respectivamente.
Os parlamentares também criticaram o Decreto nº 9.760, que suspende multas por exploração ilegal de madeira.
Na carta, eles demonstram preocupação de que essas propostas possam aumentar o desmatamento e a violência nas áreas rurais, e alertam que os projetos ferem a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que determina que indígenas, quilombolas e povos tradicionais sejam previamente consultados no caso de projetos e medidas que afetem seus territórios e modos de vida.
Os parlamentares europeus pedem que deputados e senadores brasileiros hajam para manter e restaurar a legislação necessária para proteger as florestas brasileiras e os direitos dos povos indígenas. Eles apontam que, nas últimas décadas, Brasil e União Europeia tem trabalhado juntos para avançar em uma agenda global de desenvolvimento sustentável, e lembram de acordos ambientais internacionais foram ratificados pelas duas partes, e devem ser respeitados.
Leia a carta completa (em inglês)
Ações: Biodiversidade e Soberania Alimentar, Conflitos Fundiários
Eixos: Política e cultura dos direitos humanos