Disputa pela terra está no centro dos conflitos na Amazônia
Terra de Direitos
Iury Paulino, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB de Altamira, chama atenção para a necessidade de reconhecer que “o inimigo do povo é o capital internacional, e que ele está muito bem articulado nos territórios”.
Os mais de 100 participantes do seminário Regional sobre Direitos Humanos e Defesa dos Territórios vieram de diferentes municípios, com grandes distâncias um do outro, como não poderia deixar de ser em um estado com a dimensão do Pará. Apesar da distância, a realidade enfrentada por indígenas, quilombolas, pequenos agricultores, ribeirinhos, extrativistas se repete.
Em comum, estes povos estão em conflitos pelo território em que tradicionalmente vivem, ou pela terra onde gostariam de trabalhar e morar. Darci Frigo, coordenador da Terra de Direitos, identifica a disputa da terra como fator central dos conflitos na Amazônia, mesmo quando surgem a partir de outros temas. “Não é por acaso que não sai a reforma agrária, a demarcação e a titulação dos territórios tradicionais. Esse bloco do poder, da agroestratégia, quer o território a todo custo”.
Além da terra e do território, as sementes também estão em disputa. A confirmação disso, na avaliação de Frigo, é que 96% da produção de milho do Brasil é transgênica, dominada por empresas transnacionais como Cargil, Syngenta e Monsanto. “Hoje praticamente não há empresas brasileiras de sementes”, lamenta.
“O inimigo do povo é o capital internacional”
Para além de governos ou grupos políticos, Guilherme Carvalho, coordenador da organização Fase – Amazônia, aponta que o atual processo de luta é contra um bloco de poder, que envolve grandes empresas e interesses internacionais. Nesta mesma linha, Iury Paulino, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB de Altamira, chama atenção para a necessidade de reconhecer que “o inimigo do povo é o capital internacional, e que ele está muito bem articulado nos territórios”.
A partir da experiência e atuação concreta em violações provocadas pela construção de hidrelétricas, Paulino vê possibilidade de conquista e resistência por meio da organização das comunidades atingidas e da articulação com os trabalhadores da cidade. “A resistência pressupõe o avanço da qualidade de vida das pessoas. Resistência não é dizer ‘eu vou resistir’, não é só dizer ‘sou contra ou a favor’, mas é a continuidade da resistência”. Para o militante do MAB, a organização coletiva é a principal forma de atingir conquistas: “É um caminho longo, duro, mas é o único caminho para avançar”.
A necessidade de fortalecer a articulação entre as organizações populares e os movimentos sociais foi reiterada pelos participantes do seminário. “Precisamos construir a aliança em bases sólidas. Para construir um projeto popular e alternativo precisamos construir a unidade entre todos os povos e trabalhadores”, frisa o coordenador da Terra de Direitos.
Quando os projetos para a Amazônia são tratados em âmbito federal, Guilherme Carvalho afirma que grupos do campo do ambientalismo conservador é que têm espaço e pautam as compensações: “Quem fala da Amazônia não somos nós. Esse é um problema político da maior gravidade. Estamos indo a reboque de outros que falam por nós, e, na maioria das vezes, contra nós”.
Com a pressão de comunidades e de movimentos sociais contra os impactos negativos dos grandes projetos, empresas e governo oferecem medidas compensatórias, que, muitas vezes, são apenas soluções provisórias para as violações de direitos. “A gente tem que pensar em resistência, não em compensação. A compensação não possibilita a vida dos nossos filhos daqui a 50 anos”, opina João Tapajós, integrante do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns – CITA.
Leia mais sobre o seminário:
18/07/14 - Modelo de desenvolvimento é tema de encontro de movimentos sociais e povos tradicionais no Pará
Ações: Conflitos Fundiários
Eixos: Terra, território e justiça espacial