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Carta entregue à CNTBio manifesta preocupação em relação a eucalipto transgênico


Organizações do Brasil, América Latina e de outros continentes entregam cartas à  Comissão Técnica Nacional de Biosegurança do Brasil (CTNBio) manifestando à CTNBio sua profunda preocupação  e instando a Comissão a não autorizar o pedido da empresa FuturaGene, propriedade da Suzano,  para plantar e a comercializar árvores de eucalipto transgênico 

eucalipto01Nesta quinta-feira (4), um grupo composto por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA, da Via Campesina e Terra de Direitos, entregam em Brasília duas cartas nas quais 260 grupos de mais de 40 países exigem da Comissão Técnica Nacional de Biosegurança do Brasil (CTNBio) a rejeição do pedido solicitado pela empresa Suzano Papel e Celulose, através da FuturaGene, de liberação para uso comercial de árvores transgênicos.

>> Carta aberta à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) do Brasil
>> Statement in Support of the “Open Letter to CTNBio”

As cartas serão lidas e entregues durante uma audiência pública organizada pela CTNBio, especialmente para tratar deste pedido da Suzano/Futuragene. O interesse da Suzano/FuturaGene é com as árvores transgênicas  aumentar a produtividade de suas plantações da monocultura de eucalipto. A empresa argumenta que a nova árvore geneticamente manipulada (GM) irá resultar em um aumento de 20% na produtividade e, assim, elevar “a competitividade e os ganhos ambientais e socioeconômicos por meio de maior produtividade, usando menos terra e, portanto, menos insumos químicos em geral, com menor liberação de carbono, bem como tornando a terra disponível para a produção ou a conservação de alimentos, e aumentando a renda dos produtores integrados”.

No entanto, as organizações e movimentos sociais na sua carta argumentam que “As empresas de plantação industrial de árvores há muito prometem que os ganhos de produtividade levariam a menos uso da terra. No Brasil, por exemplo, onde a produtividade das plantações de monoculturas de árvores por hectare aumentou de 27 m3/ha/ano nos anos 80 para 44 m3/ha/ano atualmente, a área coberta por plantações cresceu, passando de cerca de 4 milhões de hectares no final daquela década para mais de 7,2 milhões de hectares hoje em dia. Historicamente, portanto, não há evidências de que o aumento da produtividade tenha levado à ocupação de menos terra por plantações industriais de árvores no Brasil.”

Para João Pedro Stédile, integrante do MST, as plantações de milhões de hectares de monoculturas de árvores no Brasil e sua continua expansão para celulose de exportação é um dos principais entraves para que a luta pela reforma agrária no país avance.

“É de suma importância acrescentar que essa tecnologia em debate na CTNBio (redução de lignina nas árvores) é muito perigosa por causa do fluxo gênico, que transportará o polen a cultivos destinados à produção de madeira, e que pode causar problemas/morte de abelhas, prejudicando a polinização natural e consequentemente a produção agrícola, com perdas biológicas (ambientais) e econômicas”, aponta Marciano Silva, do MPA.

Em relação ao uso de agrotóxicos a carta afirma que “já foi provado que é falso o argumento usado pelo lobby da tecnologia GM, de que a introdução dessas culturas – como soja e milho – resulta em menor uso de pesticidas e fertilizantes. Não há razão plausível para esperar que o uso de “insumos químicos”, incluindo agrotóxicos, diminua como resultado do plantio de árvores GM. Pelo contrário, ele aumentará com a crescente ocupação do solo que está planejada e a intensificação dos ciclos de cultivo e o consequente esgotamento da terra e dos nutrientes.”

Segundo Ivonete Gonçalves, coordenadora da ONG CEPEDES da Bahia, o Brasil, já é o principal consumidor mundial de agrotóxicos, e faz centenas (ou até milhares) de vítimas por ano, aumentando a pressão sobre os já insuficientes serviços de saúde pública. “Expandir o modelo da monocultura de eucalipto com árvores transgênicas significa agravar a contaminação da terra, da água e aumentar o número de comunidades camponesas expulsas de suas terras”, afirma.

Conforme rege a legislação nacional, o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) deve realizar análises de impactos socioeconômicos derivados da possível liberação comercial de árvores transgênicas antes de qualquer decisão final no tema. “Uma análise séria, baseada no princípio da precaução, e que levasse em conta os impactos ambientais aliados aos socioeconômicos, mostraria imediatamente que a liberação de árvores transgênicas prejudicará ainda mais o povo brasileiro, especialmente no campo já afetado pelo modelo do agronegócio”, declara André Dallagnol, advogado da organização de Direitos Humanos Terra de Direitos.

Para Teresa Perez, integrante do Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais, a ameaça da liberação de árvores transgênicas no Brasil, e o processo de liberação parecido que vem também ocorrendo nos Estados Unidos é um alerta não só para as Américas, mas para os povos dos muitos países no mundo onde grandes empresas aplicam este modelo de produção em base de monoculturas em larga escala. “A indústria será a principal a se beneficiar desta nova técnica perigosa, enquanto comunidades que já sofrem dos impactos negativos das monoculturas de árvores pagarão mais uma vez os custos sociais, ecológicos e econômicos da opção da indústria de silvicultura ‘brincar’ com a natureza, sem que ela saiba avaliar com segurança os impactos a médio e longo prazo para as árvores e florestas nativas”, fala.



Ações: Biodiversidade e Soberania Alimentar

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