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Engenho de cana na Zona da Mata é tema de relatório sobre violação em direitos humanos


A história protagonizada por quase cem famílias no município de Moreno, na Zona da Mata em Pernambuco, virou tema de um relatório sobre violações de direitos humanos. O documento levanta o processo moroso de desapropriação da área, que já dura 10 anos, e também situações graves, como a existência de uma lista de trabalhadores “marcados para morrer” e a formação de milícias privadas.

O dossiê foi elaborado pela Terra de Direitos e pelo NAJUP - Núcleo de Assessoria Jurídica Popular, que estudaram a situação dos engenhos Contra-Açude e Buscaú, e foi encaminhado para diversos órgãos do governo federal e estadual. “A situação dos trabalhadores é crítica, eles são ameaçados diariamente e podemos ter a qualquer momento mais uma morte de trabalhador rural na região”, alerta a assessoria jurídica da Terra de Direitos.

Em 1998, o INCRA iniciou o processo de desapropriação dos engenhos, considerados improdutivos e aptos para desapropriação para fins de Reforma Agrária. Após dez anos ainda não houve a decretação da desapropriação da área, e as famílias que moram no local aguardam a conclusão do processo e a efetivação do assentamento.

Enquanto o processo burocrático se arrasta, os moradores estão submetidos a precárias condições de vida, decorrentes da falta de garantia do direito à terra. Além disso, também denunciam inúmeras irregularidades sobre a atuação do suposto proprietário, Fernando Vieira de Miranda. Entre as denúncias estão ameaças, existência de uma lista de pessoas “marcadas para morrer”, destruição de lavouras de subsistência e violações ao meio ambiente, causadas pelo plantio de cana-de-açúcar em área de preservação ambiental. O suposto proprietário também é investigado pela existência de trabalho na área em condições análogas à escravidão e por possível falsificação de documento público, utilizado para a aquisição da propriedade dos engenhos. Além disso, a existência de milícias privadas no local já foi, inclusive, tema de outro relatório sobre o Estado de Pernambuco.

“Esses fatos, somados à própria improdutividade dos engenhos, demonstram que a propriedade não cumpre sua função social, e que a desapropriação é a medida adequada para dirimir o conflito pela posse da terra e garantir os direitos humanos das famílias moradoras dos engenhos Contra-Açude e Buscaú”, afirmou Luciana Pivato, assessora jurídica da Terra de Direitos.

O dossiê foi encaminhado para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, a Ouvidoria Agrária Nacional, a Superintendência Regional do INCRA/PE, a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, entre outros.

Leia o relatório na íntegra aqui



Ações: Conflitos Fundiários
Casos Emblemáticos:
Eixos: Biodiversidade e soberania alimentar, Terra, território e justiça espacial