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Assembléia Popular: 8 mil protestam em Brasília contra visita de Bush


Brasília - Depois de uma tarde quente de debates políticos sobre temas tão variados como gênero, raça, educação, economia e relações internacionais, os cerca de 8 mil participantes da Assembléia Popular, reunidos esta semana em Brasília para iniciar a construção de uma plataforma política dos movimentos sociais, realizaram no fim da tarde desta quarta (26) uma marcha para protestar contra a visita ao país do presidente dos EUA, George Bush, no próximo dia 6 de novembro.A manifestação, que seguiu pelo eixo monumental e terminou em frente à Praça dos Três Poderes, passou pela Embaixada norte-americana, onde os manifestantes "plantaram" cem cruzes simbolizando as vítimas das guerras promovidas pelos EUA. O protesto transcorreu de forma tranqüila e não houve confronto com os cerca de 30 policiais que guardavam o prédio. Segundo lideranças dos movimentos sociais, a marcha é apenas o primeiro de uma série de protestos contra a vinda do Bush ao Brasil e a política internacional americana. No próprio dia 6, outros atos devem ser realizados em São Paulo e Brasília, convocados pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). Soberania e relações internacionais O protesto contra Bush fez parte de uma ampla discussão sobre os tipos de políticas internacionais e regulamentações internas do mercado adotados pelo governo brasileiro. A relação do Brasil com outras nações, as posições do governo brasileiro frente a projetos de integração econômica multinacionais e o estabelecimento de regras internas referentes à exploração e ao usufruto dos recursos naturais, mercados de serviços e outros setores estratégicos (agora em discussão na Organização Mundial do Comércio, a OMC) estão sendo trabalhados na Assembléia Popular como um mix do conceito de soberania nacional. Como pano de fundo deste debate, os movimentos sociais reivindicam uma política que garanta e implemente internamente mecanismo de distribuição de renda e acesso sustentado aos meios de produção e sobrevivência, o que engloba desde regulamentação de acesso preferencial das comunidades ribeirinhas aos recursos pesqueiros ou dos pequenos agricultores à terra, regras de proteção da biodiversidade, dos conhecimentos tradicionais e dos territórios agroflorestais com reconhecido direito de usufruto dos povos e populações originários (como indígenas, quilombolas, povos da floresta, etc), proteção e usufruto nacional dos recursos minerais, hídricos e florestais, entre outros, à proteção dos serviços públicos como educação, saúde, energia e transporte. Os movimentos também demandam uma auditoria das dívidas interna e externa do país, a não participação brasileira em acordos de livre-comércio, como a Alca, considerada imperialista, predatória e lesiva à soberania nacional, bem como a retirada das tropas brasileiras do Haiti e apoio a Cuba contra o embargo econômico dos EUA. Segundo o assessor político do Conselho Missionário Indigenista, Paulo Maldos, a essência da discussão dos movimentos foca a luta contra o avanço do modelo neoliberal no país, base dos atuais acordos de livre comércio e das negociações multilaterais sobre regras de comércio na OMC, como forma de proteção de seus direitos fundamentais, e a articulação com demais movimentos sociais a nível continental. "A aceitação dos termos de negociação dos países ricos, principalmente os EUA, significa simplesmente abertura do mercado nacional nos mais diversos setores, a conseqüente desregulamentação da legislação trabalhista, maior concentração de renda, perda da proteção dos serviços básicos, dos recursos naturais, etc. Mas isto não acontece apenas no Brasil", explica Maldos. Segundo ele, este debate vem sendo feito desde a organização dos plebiscitos populares da campanha Jubileu Sul em 2000 pela auditoria das dívidas, e, em 2003, sobre a Alca. Depois de ter fortalecido as redes latino-americanas que vêm se opondo aos vários estratagemas americanos de interferência na região - além dos tratados econômicos, também as intervenções bélicas e o estabelecimento de bases militares em muitos países -, a idéia agora é levar o acúmulo dos debates para a agenda de formação das bases sociais brasileiras, como instrumento de politização sobre uma temática amplamente ignorada pela população, explicam os organizadores da Assembléia. Autor/Fonte: Verena Glass - Carta Maior 27/10/2005




Eixos: Democratização da justica e garantia dos direitos humanos