Foi assinada hoje (14) a escritura de doação da área de 127 hectares da transnacional de sementes Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, para o estado do Paraná. A vitória só foi possível devido a luta e resistência dos camponeses, que permaneceram no local por três anos. Na área doada funcionava o campo de experimentos ilegal de transgênicos da Syngenta e foi onde ocorreu o assassinato do militante da Via Campesina Valmir Mota de Oliveira, o Keno, há quase um ano (21 de outubro de 2007).

Keno foi executado após a reocupação dos campos de experimentos pelos camponeses, quando 40 homens de uma milícia armada atacaram o acampamento e dispararam vários tiros. De acordo com o governador do estado, Roberto Requião (PMDB) o local será administrado pela IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná), que irá produzir e multiplicar sementes crioulas para distribuir aos pequenos agricultores do Paraná.

Desde a primeira tentativa de desapropriação da área, a expectativa dos camponeses era de que no local fosse instalado um Centro de Referência de Sementes Crioulas. O motivo para a ocupação da área foi o plantio ilegal de sementes transgênicas nas proximidades do Parque Nacional do Iguaçu, o que é vedado pela Lei de Biossegurança.

No mesmo mês da ocupação, a empresa foi multada pelo Ibama em R$1 milhão em conseqüência deste crime ambiental. A organização de direitos humanos Terra de Direitos, que elaborou a denúncia contra a multinacional, entende que apesar da doação, tantos os executores quanto os mandantes do ataque ao acampamento devem ser punidos.

Apesar do inquérito policial ter concluído que os trabalhadores foram alvo de uma milícia armada, o Ministério Público local eximiu os representantes da empresa Syngenta e da Sociedade Rural do Oeste do Paraná de terem participação no ataque. "Infelizmente a acusação do MP recaiu sobre os trabalhadores, criminalizando as lideranças que foram inclusive ameaçadas de morte", afirma a assessoria jurídica da Terra de Direitos.