Deu no jornal: Erva daninha coloca em xeque o glifosato
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Erva daninha coloca em xeque o glifosato
Publicado em 21/01/2010 | JOSÉ ROCHER
Pesquisadores e agrônomos reunidos na 1ª Conferência Pan-Americana sobre Resistência de Plantas Daninhas, que levou 300 especialistas a Miami (EUA), anunciaram o fim da tranquilidade da “era glifosato”, herbicida apontado como o produto mais eficiente já desenvolvido para o controle do mato no cultivo da soja. As ervas capazes de sobreviver a aplicações duplas já atingiram 40% das lavouras de soja (convencional e transgênica) no Paraná e cerca de 20% no Brasil, disseram pesquisadores brasileiros.
Essas plantas daninhas espalharam-se com rapidez, principalmente na América do Norte e na Europa, e agora encabeçam a lista das preocupações no Brasil. No país, estima-se que existem 21 espécies resistentes aos mais diversos agroquímicos, e que 4 delas não morrem quando recebem glifosato. Segundo o professor Pedro Jacob Christoffoleti, pesquisador da Universidade de São Paulo, o problema é mais grave em relação a esse agroquímico pelo amplo uso do produto e porque, no caso dos outros agrotóxicos, há sempre alternativas equivalentes para os agricultores.
Cerca de 90% dos campos de soja são transgênicos e dependem do glifosato nos Estados Unidos. No Brasil, mais da metade da área dedicada à cultura usa a tecnologia. Autorizada há quatro safras no país, a semente modificada tem participação nacional de 67% e estadual de 64% no ciclo 2009/10, apurou a Expedição Safra RPC.
O glifosato não mata a soja trangênica desenvolvida pela Monsanto, a RR. Se uma plantação dessa soja é invadida por plantas resistentes ao produto, o agricultor não pode aplicar outro agrotóxico porque isso eliminaria também a soja. Soluções estão sendo discutidas, mas todas envolvem aumento de custos. Além disso, as ervas resistentes tiram a tranquilidade do produtor. Quem fazia apenas uma aplicação de glifosato pode ter de percorrer a lavoura com pulverizadores até três vezes.
Das quatro plantas daninhas resistentes ao glifosato, a coniza, conhecida como buva, é a que mais preocupa, pela rápida expansão e pela capacidade de suportar altas doses de agrotóxicos. As outras três são o azevém, o amendoim-bravo ou leiteira e o capim amargoso. O controle químico, nesses casos, é considerado mais eficiente que na buva. Todas essas ervas resistentes se concentram no Sul. A buva tem avançado rapidamente para o Centro-Oeste, disseram os especialistas.
“A buva resistente atingiu 1,8 milhão de hectares no Paraná e cerca de 4 milhões em todo o Brasil. Quatro anos atrás, os casos eram raros. Sabíamos que plantas resistentes podiam surgir, mas não de forma tão rápida”, disse o especialista em plantas daninhas Fernando Adegas, da Embrapa Soja. Ele conta que as perdas chegam a 30% com duas buvas por metro quadrado. Uma única planta produz 200 mil sementes, que podem viajar mais de 50 quilômetros mesmo quando não há vento forte, dizem os pesquisadores.
Resistência não deve inviabilizar tecnologia
As ervas daninhas resistentes ao glifosato podem segurar a expansão da soja transgênica (GM), mas não devem inviabilizar a tecnologia RR, desenvolvida pela Monsanto. A avaliação é dos pesquisadores e representantes da concorrente Bayer, que organiza a conferência sobre plantas resistentes a esse agrotóxico em Miami. Eles alegam que, mesmo exigindo a aplicação de outros herbicidas, o cultivo da semente modificada continuará sendo mais fácil – com uso de menos insumos – que o da semente convencional.
No entanto, o aumento nos custos é dado como certo. Os herbicidas representavam um terço das despesas por hectare antes da soja RR no Brasil, relata Fernando Adegas, da Embrapa Soja. “Esse custo caiu pela metade. Mas, agora com as plantas resistentes, o gasto é praticamente o mesmo na soja convencional e na transgênica.”
A Bayer está ocupando o espaço para herbicidas que, associados ao glifosato, facilitam o controle das ervas resistentes. As vendas de produtos à base de glufosinato de amônio estão se multiplicando, comemora o diretor de operações da Bayer CropScience no Brasil, Gerhard Bohne. “O glifosato não vai desaparecer”, disse Marc Reichardt, presidente da Bayer na América Latina. O produto, que sustenta a tecnologia RR deve continuar custando menos que o grupo de herbicidas usado no cultivo convencional. Em sua avaliação, por outro lado, o lançamento de novas sementes transgênicas – como a soja resistente ao glufosinato – não vai resolver o problema das ervas resistentes ao glifosato. Reichardt afirma que o controle dessas plantas vai exigir maior rotação de culturas e mais precisão no uso de herbicidas.
Fonte da matéria: Jornal Gazeta do Povo - 21/01/2010 - Caderno Caminhos do Campo. Acessar aqui a matéria.
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