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Em encontro de lideranças, indígenas Munduruku denunciam ameaças do governo e invasões no território


Mais de 600 indígenas de 45 povos participaram de encontro convocado pelo Cacique Raoni / Foto: Associação Indígena Pariri

A invasão nos territórios indígenas Munduruku provocadas por garimpeiros, madeireiros, turistas, pesquisadores e palmiteiros foi denunciada por lideranças da região do Médio e Alto Tapajós durante o Encontro dos Povos Mebengokrê. A atividade realizada às margens do Rio Xingu, no Mato Grosso, reuniu mais de 600 caciques e lideranças indígenas de 45 povos durante os dias 14 a 17 de janeiro.

As denúncias foram trazidas em uma carta lida durante a atividade (leia abaixo). Além de apontar as ameaças trazidas por invasores, os Munduruku também indicam retrocessos na política indigenista trazidas pelo atual governo de Jair Bolsonaro. Os impactos aos territórios e à biodiversidade pelo projeto de construção de megaempreendimentos - como hidrelétricas e portos - também são denunciados no documento.

Sobre o Encontro

Convocado pelo Cacique Raoni, o Encontro dos Povos Mebengokre foi realizado na Aldeia Piaraçu – a mesma da liderança indígena -, dentro da Terra Indígena Capoto/Jarina, na cidade de São José do Xingu (MT). Um dos destaques do Encontro foi a retomada da Aliança dos Povos da Floresta, movimento protagonizado por Chico Mendes na década de 1980 que foi marcado pela união de indígenas, ribeirinhos, seringueiros e outros povos da floresta.

Os participantes da atividade assinam o “Manifesto do Piaraçu das lideranças indígenas e caciques do Brasil”, produzido durante o Encontro. Leia aqui

Leia abaixo o documento apresentado pelo pobo Munduruku do Tapajós: 


DENÚNCIA DO POVO MUNDURUKU

Nós, povo Munduruku, do Médio e Alto Tapajós, viemos mais uma vez nos posicionar contra e denunciar os mesmo invasores do nosso território: garimpeiros, madeireiros, turistas e palmiteiros. Os pariwat estão levando Pcs (máquina retroescavadeira) para o nosso território, e nós estamos bebendo água suja, comendo aximã (peixe) contaminado pela lama e mercúrio, e por isso viemos denunciar o Presidente da República do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, pois está cometendo e incentivando o genocídio, etnocídio e ecocídio, estimulando os madeireiros e garimpeiros a entrar e acabar com a nossos territórios e rios, acabar com a vida das nossas crianças, idosos, caciques, mulheres, guerreiros, pajés e os animais da nossas floresta.

Estamos aqui para dizer que esse presidente está nos matando cada vez mais, tirando nossos direitos que estão escritos na Constituição Federal de 1988. Jair Messias Bolsonaro incentiva a nossa morte por meio da mineração, grileiros (que contratam pistoleiros para nos matar), hidrelétricas, ferrovia (Ferrogrão) e arrendamento das Terras Indígenas. O governo está tirando a saúde dos povos indígenas que lutaram tanto para conquistá-la.

Esse governo quer municipalizar a saúde indígena – SESAI, levando os povos indígenas para cidade para morrer na frente dos hospitais que não conseguem nem receber os próprios pariwat (branco) que estão morrendo. Sabemos que esse presidente é etnofóbico, já que ele afirmou publicamente que não vai demarcar nenhum centímetro de terra para os indígenas. Mesmo assim, estamos aqui pra dizer que exigimos que a nosso território seja demarcado como território Sawre Muybu (conhecido como Daje, Kapap Eypi), território Sawre Bapin e demais territórios indígenas, que estão localizados na região no médio Tapajós, município de Itaituba e Trairão, no estado do Pará, está preceitua a Carta Magna do Brasil de 1988 e os acordos Internacionais assinados pelo governo do Brasil.O governo tem interesse de nos expulsar para construir grandes empreendimentos, como Ferrogrão, hidrelétricas, hidrovia e portos, para escoar grande quantidade de grão de soja e milho para China e Europa.

Essas empresas multinacionais têm contribuído para aumentar as invasões dos nossos territórios e derramamento de sangue indígena por estar comprando soja, carnes, madeira e minérios extraídos ilegalmente dos territórios indígenas.

Esses mesmos países, que se consideram desenvolvidos exploram os recursos naturais das Terras Indígenas, exportam turbinas para hidrelétricas que são construídas dentro dos nossos territórios, matando os nossos peixes e barram o nosso rio, que são as nossas estradas, e principal fonte da nossa existência e sobrevivência. Por isso exigimos que não se construa nenhuma hidrelétrica na bacia do rio Tapajós, como Chacorão, Jatobá, São Luís Tapajós e no rio Jamaxim, além de outros empreendimentos que vão matar a nossa vida.

Já sofremos com os impactos e destruição dos nossos locais sagrados Deko ka’a (morro do macaco), Karobixexe (sete queda), e viemos sofrendo desde que essas hidrelétricas foram construídas e roubaram nossos ITIG´A (urnas), que é a mãe do peixe, jabuti, macaco e outros. Os pajés foram obrigados a resgatar ITIG´ A no final do ano de 2019 e levar nossos ITIG´A (urnas) para o local tradicional, de onde foram retirados durante a construção UHE Teles Pires.

Nossos ITIG´A (urnas) estavam presos no museu de história de Alta Floresta. Sofremos e perdemos nossas mulheres por causa dos espíritos e pela profanação causada a mãe dos peixes, quando fizeram as hidrelétricas São Manoel e Teles pires. Exigimos que vocês parem de fazer portos graneleiros que esse pó da soja com agrotóxico cai dentro do rio na frente da nossas aldeias, pois eles estão contaminando o nossos rios e os peixes que comemos.

Queremos denunciar também a entrada de pesquisadores financiados por empresas brasileiras e internacionais, para legalizar o garimpo nas Terras Indígenas. Esse governo aliado a essas empresas, não respeita o protocolo de consulta do povo Munduruku, e ainda afirma que os povos indígenas não tem o direito de poder de veto e de dizer NÃO, e que eles podem entrar e acabar com a nossas vidas. E vocês são culpado pela morte do povo indígenas, vocês governo, empresas e países não aceitam migração!mas estão expulsamos a gente a força dos nossos territórios. São mais de 520 anos que estamos resistindo, e não vai ser agora que vamos parar! Vamos continuar LUTANDO para defender o nosso território!

SAWE!SAWE!SAWE!



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Ações: Conflitos Fundiários, Biodiversidade e Soberania Alimentar

Eixos: Terra, território e justiça espacial