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Marcha das Mulheres Negras reivindica garantia de direitos e o fim do feminicídio negro


Mulheres de todas as regiões do Brasil se preparam para a Marcha das Mulheres Negras, ato que simboliza a luta e mobilização dessas mulheres durante o ano de 2015. Espaço de formação e incidência política de grande importância para a conquista e a garantia de direitos das mulheres negras, a Marcha é realizada a cada dez anos. Nesta terceira edição traz o tema “Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver”.

A garantia de direitos já conquistados, o direito à vida e a liberdade, o pedido por um país mais justo e democrático e a defesa de um novo modelo de desenvolvimento baseado na valorização dos saberes da cultura afro brasileira são os motes da marcha que reunirá 20 mil mulheres na capital federal.

Com o objetivo de reafirmar a contribuição econômica, política, cultural e social das mulheres negras que constroem diariamente o Brasil, a Marcha de 2015 pretende aglutinar o máximo de organizações de mulheres e do movimento negro para exigir, em Brasília, o fim do extermínio feminicídio que sofre a mulher negra e a efetivação de políticas públicas.

Ângela Martins, da Rede de Mulheres Negras do Paraná, afirma que o foco da Marcha está nas políticas públicas específicas. Segundo sua avaliação, elas já existem, mas, efetivamente, não são executadas. “As mulheres continuam num processo de exclusão permanente, que não cessa”, avalia Ângela.

“Qualquer retrocesso de políticas públicas atinge primeiramente as mulheres negras, através da morte de um jovem, de outro que não consegue trabalho, de um marido que é demitido, através da falta de estudo e qualificação, falta de acesso à saúde pública e à alimentação segura e saudável, falta do acesso a terras quilombolas que não são tituladas”, destaca a represente da Rede de Mulheres Negras.

A secretária da Federação Quilombola de Santarém, Eloina Maria dos Santos da Cruz, destaca a importância da participação das mulheres quilombolas na Marcha. Para elas, as mulheres que terão a oportunidade de comparecer à Brasília na próxima quarta (18) estarão representando mulheres de Santarém, do Baixo Amazonas e toda a região. Além disso, Eloina afirma que muitas mulheres poderiam e teriam condições de participar da Marcha se tivessem condições e destaca a negligência do governo com os movimentos de mulheres.  “O governo não apóia esse movimento, por isso estamos realizando a Marcha por conta própria”, afirmou.

Segundo a secretária, o poder público deve se sensibilizar e fazer mais pelas mulheres. “Políticas públicas, igualdade entre homens e mulheres, debates sobre a violência contra a mulher – que está sendo tão comentada nas mídias – o fim da dependência do marido… São questões que o governo deve incidir e trabalhar com as mulheres da comunidade”, disse Eloina.

Sem dispensar o apoio de outras organizações que defendam a equidade sociorracial e de gênero, a Marcha acontece no âmbito da Década Internacional dos Afrodescendentes 2015-2024 e do mês da Consciência Negra, data que celebra a luta do povo negro contra o racismo institucionalizado e contra a falácia da democracia racial.

Por que uma marcha de mulheres negras?

Historicamente submetidas a piores condições em relação às mulheres brancas, seja em níveis profissionais ou pessoais, as mulheres negras compõem a base da pirâmide econômica do país: são as que mais trabalham e as menos remuneradas. Ainda, são as que menos constituem família, fato que se justifica pelo racismo arraigado no imaginário da sociedade brasileira.

Dados do Censo 2010 denunciam o grave problema social enfrentado pelas mulheres negras e desmantelam a justificativa de que esses números seriam uma “questão de gosto”. Segundo a pesquisa, 52,89% delas são solteiras e o que elas têm em comum? A origem social e a família. A solidão das mulheres negras revela um quadro social brasileiro que tem no racismo e no sexismo sistemas cruzados de opressão.

A disparidade das condições sociais entre mulheres brancas e mulheres negras se evidencia também pelos dados de violência contra mulheres no Brasil: a mulher negra é a maior vítima da violência doméstica e de homicídios no país.

Racismo e sexismo: Mapa de Violência 2015 – Mulheres

Segundo o Mapa da Violência 2015, elaborado pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais) e publicado na última segunda-feira (9), os homicídios de mulheres negras aumentaram 54% entre 2003 e 2013. No mesmo período, o número de assassinatos de mulheres brancas caiu 9,8%.

De acordo com o estudo, o Brasil é o 5° país – num ranking de 83 – dos mais violentos para mulheres. No período analisado, em média, 11 mulheres foram assassinadas no Brasil todos os dias. Mais da metade delas, 55%, eram negras.

Serviço | Marcha das Mulheres Negras 2015

Data: 18 de novembro de 2015

Concentração: a partir das 9h, nas imediações do Ginásio Nilson Nelson. O percurso previsto se dará até o Congresso Nacional e encerramento no Complexo Cultural do Museu da República, em Brasília.



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