Acervo / Artigos



O avanço do capital privado e a violação de direitos no Tapajós

17/01/2020 Por Frede Rênero e Jackson Dias, membros da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

Em Itaituba, complexo portuário prevê a construção de 28 portos; cinco já estão em operação / Foto: Pedro Martins

O estado do Pará é o segundo maior do Brasil e possui grande biodiversidade de fauna, flora, hidrografia e minerais. Desde a ditadura militar, o estado vem sofrendo grande espoliação pelos setores privados de vários países.

No último período, ao mesmo tempo que acontecia a construção de grandes projetos hidrelétricos e minerais no Pará, o capital também enxergava que as regiões do Tapajós e do Baixo Amazonas seriam fundamentais para o escoamento da produção de grãos da região Centro-Oeste do Brasil.

Para isso, empresas como a Amaggi, grupo privado pertencente à família do ex-ministro da agricultura Blairo Maggi, Bunge e Cargil conseguiram construir grandes portos às margens do rio Tapajós, causando diversos impactos, como o deslocamento de dezenas de famílias e aumento de acidentes na BR 163, haja visto o aumento do transporte de carga por caminhões na rodovia.

No último período, o capital privado tem se articulado e pressionado os bancos públicos para a construção e ampliação da malha rodoviária, ferroviária, hidroviária e portos.  O rio Tapajós está localizado em uma região estratégica do ponto de vista da exportação de riqueza produzida, pois o percurso é menor para a Europa, Estados Unidos e China se comparado aos portos da região Sudeste do Brasil.

No planejamento do complexo portuário de Itaituba estão elencados 19 portos em Itaituba e 9 portos no município de Rurópolis, todos de capital privado como Odebrecht, Itaipava, Amaggi e Bertolini. Desses 28 portos, já estão operando 5 portos em Itaituba, assim, desde 2014 houve um aumento extraordinário na movimentação de cargas nos portos do complexo. Segundo a Companhia Docas do Pará (CDP), em 2014 foram movimentadas 75.200 toneladas; em 2018, a movimentação de cargas chegou a 906.389 toneladas.

O complexo portuário de Santarém também é resultado do investimento do capital privado na Amazônia. Segundo a CDP, de 2014 para 2018, o complexo aumentou a movimentação de mercadorias de 2.816.676 de toneladas para 9.090.240 de toneladas.

Os complexos portuários são o resultado de um processo de espoliação dos recursos naturais que vão desde o desmatamento ilegal, como está acontecendo neste momento na região, passando pela monocultura e pela construção de ferrovias, como a Ferrogrão, projeto estimado em R$ 12 bilhões.

Para além dos projetos portuário e ferroviário, está em pauta o complexo hidrelétrico do Tapajós, com planejamento de cinco grandes hidrelétricas.

A instalação dessas obras traz um conjunto de contradições. Elas são instaladas com a promessa de desenvolvimento e progresso, têm facilidade no processo de licenciamento ambiental e regularização fundiária, e enquanto isso aumentam a precariedade na saúde e na educação, com inchaço populacional, especulação imobiliária, elevação do índice de violência em todos os níveis, violando direitos e alterando o modo de vida das populações. 

:: Este artigo integra a publicação Tapajós: informes de uma terra em resistência - 2ª edição. Acesse aqui a publicação.



Ações: Impactos de Megaprojetos,Empresas e Violações dos Direitos Humanos
Eixos: Terra, território e justiça espacial
Tags: Movimento dos Atingidos por Barragens,Impactos de megaprojetos no Tapajós,Avanço da soja Tapajós,Soja na Amazônia