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Brasil de Fato | No Paraná, atingidos por barragens são presos pela PM, que usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha


No fim da tarde desta quinta-feira (8), o Batalhão de Choque da PM do Paraná prendeu e feriu famílias atingidas por barragens no município de Capanema, durante a execução de uma reintegração de posse. Cerca de 150 famílias ocupavam a entrada do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica do Baixo Iguaçu desde segunda, que estava com as obras paralisadas desde então. A reintegração foi emitida pela juíza da Vara da Fazenda Pública, Roseana Assumpção, no mesmo dia da ocupação.

Vilmar Locatelli, um dos agricultores presos / MAB

Os 80 policiais presentes na operação lançaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha sobre os ocupantes, apesar de haver idosos e crianças no local. Segundo informações do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), há pessoas feridas por balas de borracha e algumas foram hospitalizadas. Não há confirmação do número de feridos. O movimento publicou um vídeo na rede social Facebbok que registra a ação da PM, acesse aqui.

Três agricultores foram presos e levados para o 21º Batalhão da Polícia Militar de Capanema. De acordo com o advogado das famílias, Nilceu Natalino Cavalheiro, os três são acusados de desobediência, mas devem ser soltos ainda nesta noite. Eles assinaram um Termo Circunstanciado e precisaram comparecer em juízo.

"A minha mãe torceu o pé e passou mal, eu voltei para ajudar e me prenderam", relata um dos presos, Vilmar Locatelli. Ele estava acampado desde segunda-feira com a esposa e os três filhos - de 2, 7 e 16 anos -, que não estavam no local no momento do despejo porque haviam retornado ao sítio onde moram para alimentar a criação e ordenhar vacas."Nós só estamos tentando garantir o nosso direito. Até agora nós não temos áreas de reassentamento, nem termo de acordo, não tem nada", desabafa o agricultor que, junto com a família, participa da resistência desde o início das obras da barragem, há três anos e meio.

Reivindicação

O integrante da coordenação MAB, Rodrigo Zancanaro, explica que a ocupação das obras teve por objetivo cobrar o avanço das negociações com a empresa NeoEnergia, responsável pela construção da Usina, e com o governo do estado.

Segundo Zancanaro, a empresa não compareceu às últimas três reuniões de negociação com as famílias. Cerca de 60% da obra está construída e até agora não tem nada de concreto do que vai ser das famílias depois do alagamento da área. o governo do estado que cedeu o licenciamento também não se posiciona", denuncia.

Os agricultores cobram definição de local de reassentamento, indicação do valor que será pago pelas suas terras, e apresentação de Plano de Desenvolvimento e Plano Urbanístico para os afetados que vivem em área mais próxima à cidade. Ao todo, 1025 famílias serão atingidas diretamente pela obra.

Em maio deste ano, a PM chegou a prender 12 atingidos por barragens que ocupavam o conteiro de obras, com as mesmas pautas.



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