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Encerramento da 5º Jornada de Agroecologia reafirma necessidade de mudança da matriz de produção


Para o representante da Jornada e coordenador do MST, Roberto Baggio, o grande diferencial deste ano foi as cerca de 50 oficinas, que apresentaram as experiências práticas de agroecologia no Paraná. "Esse é um processo de organização popular, que liberta os camponeses, possibilitando a construção de uma agricultura soberana, sem o latifúndio", afirma.

Baggio ressaltou, que os camponeses precisam lutar permanentemente contra as grandes empresas transnacionais, que querem transformar toda biodiversidade em negócio, privatizando a terra, água e sementes.

Na opinião do Superintendente Regional do Incra - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária do Paraná, Celso Lisboa de Lacerda, as Jornadas de Agroecologia são de extrema importância para o avanço do processo de reforma agrária, porque só desta forma é possível obter a visibilidade da pequena agricultura e preservar o meio ambiente.Moções de Apoio Durante o ato de encerramento o representante da Jornada e coordenador da Terra de Direitos, Darci Frigo, apresentou várias moções de apoio aprovadas pelos cinco mil participantes.

Os agricultores apresentaram moção repudiando a manutenção da prisão preventiva contra o integrante do MST, Célio Rodriguês, pedida pela Monsanto; Outra moção pediu a cassação do deputado federal, Abelardo Lupion PFL-PR, que foi presenteado pela Monsanto com uma fazenda, em Santo Antônio da Platina, por conseguir a liberação do glifosáto Rondp Red; contra a venda livre de agrotóxicos no Brasil, seguida pelo pedido ao Ministério da Agricultura para que todas as áreas de sementes crioulas sejam consideradas prioritárias para a conservação de biodiversidade e a proibição do cultivo de transgênicos nestes locais; exigência para que o Ministério do Meio Ambiente, por meio do Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis dê continuidade a fiscalização das zonas de amortecimento das unidades de conservação e terras indígenas; repúdio contra a concretização de fiscalização de alimentos no Ministério da Agricultura, e a tentativa do Ministério de concentrar todo esse poder, que pode resultar na falta de fiscalização de alimento, como foi o caso dos transgênicos.

Estiveram presentes no encerramento os representantes das organizações que compõem a jornada, o Superintendente do Incra, Celso Lisboa de Lacerda, representante do MMA Luiz Balsevisk, a representante do Secretario de Meio Ambiente do Paraná, Margaret Hauer e presidente o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Paraná, Pastor Werner Fuchs. Técnicas apresentadas na Jornada de Agroecologia aumentam rentabilidade da pequena propriedade Cascavel - Escolher nichos de mercado não explorados, agregar valor ao produto e otimizar a produção são técnicas gerenciais e econômicas ensinadas aos participantes da 5ª Jornada de Agroecologia, realizada no Centro de Eventos de Cascavel com o tema "Construindo o Projeto Popular e Soberano para a Agricultura".

Uma das técnicas que os agricultores aprenderam foi a de extração do óleo vegetal a frio. O óleo é extraído da maioria das sementes das plantas e é utilizado como óleo de cozinha ou para combustíveis substitutos do diesel. Segundo o coordenador do projeto de mini-usinas comunitárias de óleo vegetal da rede evangélica paranaense de assistência social (Repas), Werner Fuchs, os benefícios da extração do óleo são inúmeros se o óleo for bem aproveitado pelos agricultores.

"O óleo virgem comestível é um alimento saudável, pode ser utilizado também como combustível e pode-se obter uma renda de até R$ 20 mil por alqueire com a produção de óleo de girassol, por exemplo, sem contar o reaproveitamento do excedente para adubação ou alimentação dos animais" explica.

Uma outra técnica ensinada aos agricultores foi o sistema de criação de frango a pasto, uma evolução do sistema caipira, que garante uma alimentação saudável e com retorno econômico muito mais rápido ao agricultor. Além disso, o sistema segue as novas tendências de alimentos agroecológicos, preferidos pelos consumidores mais exigentes, e agrega ao produto uma maior rentabilidade. A oficina de "reaproveitamento de dejetos humanos" mostrou as adaptações de um produto ainda pouco conhecido: o sanitário seco compostável. A tecnologia transforma as fezes em adubo orgânico - sem uso de água e através de um processo bioquímico.

Segundo Anacleto José ministrante da oficina, "a cada ano, no país, em torno de 160 milhões de toneladas de dejetos humanos são transformadas em poluição e depositadas junto com o lixo urbano ou despejadas nos rios". Ele disse, ainda, que "o banheiro seco é uma solução simples, ecológica e economicamente viável para solucionar esse e outros problemas". Escola itinerante e reforma agrária Outras oficinas e seminários foram apresentados e discutidos durante a jornada, como a experiência de dois anos e meio das escolas itinerantes, que chegam ao número de 11 em todo o Paraná.

Sandra Schzeerin, da Brigada Teixeirinha (Cascavel), conta que as escolas do movimento trabalham a partir do que a comunidade necessita e seu calendário é pautado pela dinâmica social. "A realidade é a base da produção de conhecimento", diz. Uma das pautas da jornada é o combate ao uso do agrotóxico na agricultura familiar. No ultimo dia de oficinas tratou-se do perigo do uso de agrotóxicos no estado do Paraná, das suas implicações na saúde, no meio de ambiente e na área legislativa.

De acordo com o ministrante do curso, Reinaldo Onofre Skaliz, órgãos oficiais como o Ibama e o Ministério da Agricultura não cumprem a legislação que delimita uma quantia máxima de substâncias químicas encontradas nos alimentos. No caso da soja transgênica, essa cota é extremamente alta. "Coletamos amostras entre os cultivos transgênicos no Paraná, e, embora digam que estão reduzindo os agrotóxicos, na verdade encontramos nos alimentos 70 % de resíduos de glifosato (herbicida utilizado nos cultivos de soja transgênica)", afirma.

A agroecologia é outro tema da oficina, pois trata-se de um contrapeso à política dos transgênicos. O tema discutido na oficina expôs o que três diferentes organizações fazem para impedir a entrada de transgênicos no país. A Via Campesina está voltada para a questão do campo, o Greenpeace atua na questão ambiental e, finalmente, a campanha Por um Brasil livre de transgênicos focaliza a parte relativa à soberania, política e macroeconomia. Ventura Barbeiro, engenheiro agrônomo e membro do Greenpeace, pensa que, embora as três organizações tenham frentes de atuação distintas, elas se complementam na hora de resistir.

O Brasil, segundo ele, apesar da legalização da soja transgênica, ainda oferece um contraponto se comparado a outros países da América do Sul - e sofre pressão das corporações para que outros cultivos transgênicos sejam liberados. A tendência é que a pressão seja cíclica e retorne sempre, já que a Ásia também se manteve fechada a esse tipo de produto. Autor/Fonte: Jornada de Agroecologia



Ações: Biodiversidade e Soberania Alimentar

Eixos: Biodiversidade e soberania alimentar