Notícias / Notícias



Entidades e movimentos sociais divulgam nota pública contra criminalização da luta pela moradia em Curitiba


Portanto, a CPI, da maneira como é criada, serve como um pretexto para criminalizar a luta social e reforçar a prática de despejos forçados - algo condenado pelas Nações Unidas (ONU).Frente ao déficit habitacional que Curitiba enfrenta e a falta de políticas públicas neste sentido, a nota da CMS chama a atenção para os vários fatores que influenciam uma ocupação e convoca a sociedade, classe política e meios de comunicação, para um debate sério, a partir das necessidades da população. Informações: Coordenação dos Movimentos Sociais: 9608-7402 (Gustavo Erwin) Jornal Brasil de Fato: 3324-9923 (Pedro Carrano) NOTA PÚBLICA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS CONTRA A CRIMINALIZAÇÃO DA LUTA PELA MORADIA EM CURITIBA A Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), as organizações e entidades que a compõe, manifestam a sua preocupação diante da forma como as ocupações irregulares e a falta de moradia em Curitiba têm sido tratadas pela bancada governista municipal e pelos meios de comunicação, o que culminou com a implantação da "CPI das Invasões", proposta pelo vereador Tico Kuzma, do PPS, e aprovada na Câmara de Vereadores, no dia 08/03. Se a questão não for tratada corretamente, poderá ser um pretexto para criminalizar o movimento social que reivindica de forma legítima o direito à moradia adequada e à cidade. São legítimos os mecanismos de pressão da sociedade organizada junto ao Estado, garantidos pela Constituição e por instituições internacionais. Mas, muitas vezes, a luta por direitos é confundida com criminalidade. O Relator Especial sobre a Moradia Adequada da ONU, Miloon Kothari, afirmou, durante visita ao Brasil em maio de 2004, que "ocupar terras improdutivas e prédios abandonados é um direito legítimo dos miseráveis brasileiros". Ainda, o Superior Tribunal de Justiça do Brasil decidiu que a pressão do movimento popular "configura direito coletivo, expressão da cidadania visando a implantar programa constante da Constituição da República". Igualmente nos preocupa a abordagem da mídia empresarial sobre esta situação, Recentemente, durante as ocupações ocorridas nos bairros Campo Comprido e Santa Quitéria, em Curitiba, os meios de comunicação enfocaram apenas as disputas partidárias, sugerindo que são o motivo das ações. O tema da moradia, porém, é muito mais amplo e complexo. Quando meios de comunicação defendem a aplicação imediata da reintegração de posse, cumprida pelo governo estadual, desconsideram o fato de que nada justifica os Despejos Forçados, segundo reforçam as orientações das Nações Unidas (ONU), assinadas pelo Brasil, e que priorizam a busca de medidas alternativas à aplicação de despejos. Isto porque "os tratados e acordos internacionais de Direitos Humanos assinados pelo Brasil, e introduzidos ao sistema de leis brasileiras, determinam a eliminação dos Despejos Forçados e a promoção de políticas inclusivas à cidade" (vide o Manifesto por Curitiba e o Paraná livre de despejos forçados, de 2005). Ao contrário do exposto na manchete publicada pelo Jornal do Estado, (09/03/07), não se "varre" a falta de moradia para debaixo do tapete, muito menos a população atingida diretamente pela falta de políticas e condições econômicas. Sugerimos, para ampliar a investigação dos vereadores da "CPI das Invasões", um olhar para TODOS os fatores que motivam uma ocupação, como o déficit habitacional que atinge cerca de 32 mil domicílios em Curitiba (segundo dados do IBGE); pedimos também atenção à especulação imobiliária, que paralisa a cidade e produz vazios urbanos insustentáveis, excluindo os pobres e parte da classe trabalhadora do amplo acesso aos direitos e benefícios da cidade. Em meio a este cenário, as políticas da COHAB-Curitiba têm sido ineficientes, pois não atingem a população cuja renda é inferior a 3 salários mínimos. Por sua vez, os instrumentos de regularização fundiária, presentes no Plano Diretor de Curitiba, não têm sido aplicados, e a regulamentação dos Planos de Habitação e Regularização Fundiária ainda não foi comunicada à população de Curitiba. Todas as políticas do Plano Diretor devem ser regulamentadas na cidade até dezembro de 2007, mas, por falta de mais informação e divulgação, a população não faz a menor idéia do assunto. Os parlamentares que propuseram a CPI poderiam investigar em que medida as políticas clientelistas contribuem para a prorrogação da miséria, por meio da cooptação de lideranças locais mantendo áreas inteiras sob controle político. No mínimo, os vereadores da bancada governista municipal e a mídia empresarial poderiam passar mais do que os habituais cinco minutos numa área de ocupação, ouvir as pessoas, saber das suas reivindicações, antes de generalizar e reduzir uma necessidade de milhares de famílias a razões "levianas" - na expressão do projeto da CPI, ao falar da motivação das ocupações irregulares. Finalizamos lembrando que, de acordo com o Estatuto da Cidade e o novo Código Civil, a função da propriedade passa a ser, antes de tudo, social e ambiental. Portanto, trata-se de uma visão de mundo na qual o ser humano está em primeiro lugar, muito antes do mercado especulativo de terras. O certo é que, no final das contas, os pobres da cidade não podem ser usados como massa de manobra pelos partidos que querem antecipar a corrida eleitoral de 2008. Diante disto, reivindicamos imediatamente: 1. O fim dos Despejos Forçados; 2. O fim da criminalização dos movimentos sociais e das pessoas que necessitam de moradia; 3. Assinatura do Termo de Compromisso "Curitiba Livre de Despejos" pela Prefeitura de Curitiba e Estado do Paraná, apresentada durante missão da Comissão de Especialistas sobre Despejos Forçados da AGFE/ONU; 4. Políticas habitacionais inclusivas, para todos os níveis de renda e especialmente para população de renda entre 0 e 3 salários mínimos; 5. Uma política de ocupação dos vazios urbanos de Curitiba destinados à especulação; 6. Aplicação dos instrumentos jurídicos previstos no Plano Diretor de Curitiba como IPTU progressivo, regulamentação das Zonas de Interesse Social, regularização fundiária e urbanização de ocupações, com participação da sociedade; 7. A regulamentação do Conselho Municipal da Cidade de Curitiba e do Conselho Estadual das Cidades, nos termos da Lei Estadual 15.229/2006; 8. A implementação do Fundo Municipal de Habitação e Interesse Social; 9. A extinção imediata da "CPI das invasões"; 10. Um debate sobre déficit público de moradias e ação especulativa do mercado imobiliário em Curitiba. Curitiba, 14 de março de 2007. Assinam: Coordenação dos Movimentos Sociais do Paraná; Central Única dos Trabalhadores - CUT - Paraná; Marcha Mundial das Mulheres; Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM); Central de Movimentos Populares - CMP; União Nacional de Moradia Popular - UNMP; APP Sindicato. Ambiens Cooperativa Conam (Confederação Nacional das Associações de Moradores) Jornal Brasil de Fato Terra de Direitos Autor/Fonte: Várias entidades



Ações: Direito à Cidade

Eixos: Terra, território e justiça espacial