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Sistema agrícola das apanhadoras/es de flores em MG é o primeiro patrimônio agrícola mundial do Brasil na FAO




O Sistema de agricultura tradicional das apanhadoras de flores da Serra do Espinhaço (MG) é oficialmente o primeiro Patrimônio Agrícola Foto: Antonio Araujo/MapaMundial no Brasil. Em cerimônia realizada em Brasília, nesta quarta-feira (11), representantes de seis comunidades apanhadoras de flores da porção meridional da Serra do Espinhaço (MG) receberam o selo de reconhecimento de Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (Sipam), concedido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) desde 2002. Além de se tornaram o primeiro SIPAM no Brasil, as comunidades de apanhadoras sempre-vivas possuem o quarto selo da América Latina e o 59º patrimônio agrícola em todo o mundo. O processo de análise da candidatura das apanhadoras de flores durou quatro anos e foi divulgado nesta semana. 
Para as apanhadoras o selo da FAO será um importante instrumento de defesa do território. “Manter nossas terras ancestrais é importante para Minas Gerais, para o Brasil e para o mundo” reafirmou Maria de Fátima Alves, conhecida como Tatinha,  membro da Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas da Serra do Espinhaço de Minas Gerais (Codecex)
“É preciso garantir o direito ao uso da biodiversidade, das sementes crioulas, dos territórios tradicionais. Contamos com o apoio dos governos federal, estadual e municipal para continuar o sistema vivo. Que esse selo traga garantias e, principalmente, o acesso à políticas públicas. Essa conquista é de todos os povos tradicionais do Brasil”, concluiu Tatinha, que celebra o recebimento do selo dias antes de a Codecex completar 10 anos, em, 13 de março. 
O Sistema- O Sistema que envolve o cultivo e a colheita de flores sempre-vivas permite às  comunidades empreender um modo vida conectado com a ancestralidade. O manejo de quase 500 espécies nativas e cultiváveis é feito sem veneno, respeitando a biodiversidade e com cuidado à terra, compartilhando áreas de plantio e colheita e preservando as nascentes dos rios. A maior preocupação dessas comunidades é que a invasão do território por grandes projetos traga prejuízos para esse modo de vida. 
O plantio das flores e a colheita, a preservação do solo e do território com técnicas sustentáveis e ancestrais e o cultivo das roças em áreas de uso comum são algumas das características que levaram as apanhadoras a ganharem o selo Sipam, e que auxiliam na perpetuação do sistema que é passado de mães e pais para filhos e filhas. 
Dona Jovita Maria Correia, 62 anos, da comunidade Mata dos Crioulos, conta suas lembranças de criança da ida aos campos de flores com a família. Ela foi a representante da sua comunidade na cerimônia de entrega dos certificados de reconhecimento da FAO. 
Jovita ressalta que esse reconhecimento será muito importante na luta pela demarcação do território das comunidades. Das seis comunidades apanhadoras de flores que receberam o reconhecimento do Sipam, três são quilombolas e aguardam a demarcação definitiva do seu território há anos. 
“Feliz em ganhar esse prêmio tão maravilhoso. Que a gente tem tempo que está nessa luta. Hoje estamos vendo o reconhecimento dela. Viajei muito para a gente conseguir esse prêmio. Esperamos que ele ajude na demarcação o nosso território que esperamos há tanto tempo”, diz ela. 
O representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, deu sua percepção sobre o sistema  desenvolvido pelas apanhadoras. 
“Globalmente os sistemas do patrimônio da agricultura são caracterizados pela combinação de quatro elementos: biodiversidade, ecossistemas resilientes, conhecimento tradicional e valiosa herança cultural -a identidade. Depois de estar, em junho de 2019, em Diamantina, e ter  vivido e conversado com aquela comunidade, tenho certeza que além dos quatro elementos existe outro mais: a dignidade das mulheres rurais. Percebi nelas, a identidade, o desejo de avançar e o orgulho de pertencer a esse território”, disse Zavala.
Imir Jesus da Cruz Vale, da comunidade de Vargem do Inhaí, também reforça a importância do selo para proteção das comunidades. “Esse selo é uma força nacional para proteger nosso território. Foi uma grande luta e nós não desistimos. É muita honra a gente receber esse título sendo a primeira em Minas Gerais”,conta  Imir que desenvolve um trabalho exemplar com o plantio de sementes crioulas e a preservação de nascentes em seu território. Trabalho que, por várias vezes, já foi ameaçado por práticas que visam ao lucro sem considerar  o cuidado com a preservação do meio ambiente e da história dessas comunidades, como a mineração, os monocultivos e a criação de unidades de conservação que avançam sobre os territórios sem qualquer tipo de consulta às comunidades. 
A cerimônia de entrega dos certificados do selo da FAO  também contou com a presença da ministra da agricultura Teresa Cristina, do governador de Minas Gerais, Romeu Zema e secretários do estado de Minas. A ministra da agricultura destacou a importância de manter a tradição de cultivo e preservação das apanhadoras. A pasta chefiada por Tereza Cristina é responsável pela liberação de mais de 500 agrotóxicos somente em 2019. Venenos que são extremamente agressivos à saúde humana e à práticas de cultivo e preservação como as utilizadas pelas comunidades apanhadoras de flores.   



Ações: Biodiversidade e Soberania Alimentar

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