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A testemunha que faltava no caso Dorothy Stang

29/04/2010 Por Paulo Moreira Leite

DorothyMarcado para esta sexta-feira, o julgamento do fazendeiro que é o principal suspeito de ser o mandante do assassinato de irmã Dorothy Stang, religiosa com intensa atividade social que foi executada em 2005 no interior do Pará, pode ganhar um novo rumo. A acusação anuncia hoje a decisão de apresentar uma testemunha capaz de oferecer novas pistas sobre o caso.

Quem acompanha as idas e voltas que envolvem a investigação do crime sabe que até agora os trabalhos de encontrar e punir os responsáveis sempre esbarraram num álibi poderoso. O principal suspeito de ser o mandante do assassinato, o fazendeiro Regivaldo Galvão, conhecido como Taradão, sempre sustentou em seus depoimentos que não tinha o “menor interesse” na morte de irmã Dorothy.

Regivaldo alega que não possui “um centímetro” de propriedades na área nem qualquer outra motivação capaz de levá-lo a envolver-se num crime de tamanha repercussão. Nem a polícia nem a Justiça davam crédito a essa versão mas faltavam meios de questioná-la de modo irrefutável. Com essa nova testemunha, cria-se uma nova situação.

Trata-se de Roniery Bezerra Lopes, que entre janeiro de 2007 e dezembro de 2008 foi gerente de propriedades que Regivaldo diz não possuir. Dois anos depois do assassinado de irmã Dorothy foi contratado para administrar um total de oito fazendas da área, que, embora em nome de terceiros, seriam propriedade de Regivaldo.

Em conversa gravada, Roniery antecipou o que pode dizer no tribunal. O depoimento mostra que a morte de Irmã Dorothy está longe de ser uma tragédia remota num lugar distante, mas tem relação com operações milionárias e ilegais que envolvem políticos e empresários do Estado, suspeitos de usar terras griladas para promover fraudes e desviar recursos públicos dos cofres da Superintendencia da Amazonia,a Sudam, hoje extinta.

Roniery declara que era gerente da fazenda quando recebeu cabeças de gado como pagamento de dívidas que ligam o Lote 55, local do crime, a uma tentativa de fraude na Sudam. Quem fez o pagamento foi Laudelino Delio Fernandes, atual vice prefeito de Anapu, que precisava acertar contas com Regivaldo Galvão. O ex-gerente diz ainda que outro socio, José William, até hoje se recusa a repassar documentos de terra pretendidos por Reginaldo, com o argumento de que não teria recebido o que fora combinado.

As irregularidades vieram a público em 2000, cinco anos antes da morte da irmã Dorothy, e produziram um escândalo razoável. Alguns personagens foram parar na prisão. Mas, a terra e os acertos ilícitos ficaram.

O caso poderia ter-se encerrado aí, como um golpe fracassado contra as finanças públicas. Não foi o que aconteceu. Sem disposição para abrir mão de terras de valor respeitável — cada lote tem valor calculado entre R$ 4 e R$ 4,5 milhões — Regivaldo procurava tomar posse das propriedades de qualquer maneira. Mobilizou sócios, laranjas e funcionários, diz Roniery, para quem o antigo patrão segue ligado a outros fraudadores da SUDAM na utilização de uma dezena de lotes na região em operações desse tipo.



Ações: Defensores e Defensoras de Direitos Humanos

Eixos: Terra, território e justiça espacial