Organizações e movimentos denunciam uso da pandemia por transnacionais para explorar falso marketing solidário
Assessoria de comunicação Terra de Direitos
Em nota, coletivo destaca que empresas somam altos lucros, recebem ajuda governamental e violam direitos ambientais, sociais e humanos
Um coletivo composto por mais de 50 organizações sociais, movimentos populares, redes de defesa dos direitos humanos e ambientais e grupos de pesquisa denuncia, em nota publicada nesta terça-feira (28), o uso de marketing pelas empresas transnacionais que usam de ações de solidariedade no contexto de pandemia para garantir melhora da imagem pública, ao passo que seguem com aumento dos lucros e violação de direitos humanos e ambientais. A Terra de Direitos assina a nota.
No documento o grupo destaca que a representação pública das transnacionais pelas empresas privadas de comunicação oculta o dado de baixo impacto orçamentário das doações diante da alta lucratividade de empresas vinculados aos setores de plantações de monoculturas de árvores, agronegócio, petróleo e mineração.
“Um dos casos é a CMPC, que obteve lucro líquido de R$ 962,5 milhões em 20192 , no município de Guaíba (RS). A plantação para produção de celulose da empresa registrou o primeiro quadro da doença na cidade. Nesse ano, o grupo doou R$ 70 milhões através da empresa Softys para ações de combate ao Covid-193 , o qual representa apenas 7% dos ganhos líquidos da corporação em relação à 2019”, destaca um trecho. O documento ainda cita empresas como a Vale e a Petrobrás que, na busca pelos lucros, não paralisaram suas atividades e registram surtos de Covid-19 entre os funcionários, entre outros casos.
O documento destaca que a divulgação das limitadas ações de solidariedade não menciona a renegociação de dívidas das empresas pelo Estado brasileiro. Apenas a empresa Suzano recebeu R$ 6 bilhões em dinheiro público como empréstimo no início da pandemia. “Isso demonstra como as empresas se utilizam de momentos de crise para amplificar pequenas ações de retorno social, fortalecendo suas marcas com propaganda positiva e, ainda, receber mais benefícios do Estado”, destaca outro trecho.
O grupo ainda manifesta indignação no desproporcional auxílio governamental para populações vulneráveis no enfrentamento aos impactos sociais, econômicos e à saúde pela Covid-19. “É importante registrar semelhante indignação ao Governo Bolsonaro, que em um contexto sem precedentes, faz movimento nenhum na direção de aplicar recursos do BNDES, em benefício da sociedade. As populações são deixadas ao acaso, enquanto recursos poderiam ser aplicados no acesso à alimentos essenciais e ações que dessem condições de atravessar tal momento sem o risco de exposição ao vírus para as/os trabalhadoras/es e as suas famílias”, sublinha mais um trecho.
Tem sido iniciativas de organizações e movimentos populares, ponderam as subscreventes da nota, que tem amparado e amenizado os efeitos da crise econômica e epidemiológica junto a população, com a doação de alimentos, por exemplo.
“Dada a situação dramática em que vivem as comunidades mais vulneráveis, afetadas pelo novo coronavírus, vimos cobrar a responsabilidade das autoridades públicas quanto condições de vida e de saúde dignas aos afetados pela Covid-19. Da mesma forma, repudiamos as empresas que seguem destruindo a natureza e as populações e que se aproveitam dessa situação para fazer marketing "humanitário" e "verde", através de doações, que mais servem para lavar sua verdadeira imagem perversa e sua condição de beneficiárias de recursos públicos e incentivos governamentais, para continuar se apropriando de territórios, exaurindo seus recursos naturais e destruindo sua sociobiodiversidade.”
Ações: Empresas e Violações dos Direitos Humanos
Eixos: Política e cultura dos direitos humanos