Organizações e movimentos sociais realizam Jornada em Defesa da Amazônia pelo Clima
A programação inicia com um Tribunal Popular contra Agrotóxicos que será realizado em Santarém

Santarém (PA) se prepara para uma grande mobilização popular, a ‘Jornada em Defesa da Amazônia pelo Clima, Saúde e Soberania dos Territórios’, que reunirá diversas ações políticas, com debates, atos e a realização do Tribunal Popular Contra os Agrotóxicos. De 26 a 28 de setembro, a cidade acolherá povos indígenas, quilombolas, agroextrativistas, agricultores familiares, representantes dos movimentos sociais, sindicatos, organizações populares e aliados nacionais para denunciar as práticas de exploração dos bens comuns, que agravam o aquecimento global, assim como os impactos do agronegócio, e reafirmar a defesa da vida e da floresta.
A programação inicia com a realização do Tribunal Popular, que ocorrerá no dia 26 de setembro, a partir das 7h, no auditório do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém, com capacidade para receber mais de 400 pessoas.
O Tribunal Popular surge como resposta às graves violações sofridas pelas comunidades amazônicas diante da expansão do agronegócio, incluindo envenenamento por agrotóxicos, desmatamento acelerado, expulsão de povos de seus territórios e ataques sistemáticos a defensores e defensoras de direitos humanos.
Não se trata de uma instância judicial formal, mas de um espaço vital de denúncia e mobilização, onde a sociedade civil organizada julgará e responsabilizará as empresas transnacionais do agronegócio e o Estado por sua conivência ou omissão. O objetivo é dar visibilidade a essas violações, cobrar medidas concretas de fiscalização e políticas públicas efetivas, além de fortalecer a agroecologia como caminho de vida, resistência e soberania alimentar.
"Esta é uma oportunidade histórica para nós, organizadores, de mostrar que, enquanto as transnacionais do agronegócio destroem a floresta e envenenam os povos, são as experiências agroecológicas e comunitárias que apontam caminhos concretos para a vida", afirma Mirelle Gonçalves, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida.
Para Paula Harumi, assessora jurídica da Terra de Direitos, o tribunal terá como papel fundamental denunciar as violações de direitos ocasionadas pelo uso intensivo de agrotóxicos na região de Santarém. "O tribunal será um espaço de ação da sociedade civil organizada para expor e denunciar casos de contaminação pelo usos de agrotóxicos que vem violando os direitos à vida das gentes e da natureza. Os movimentos sociais, povos e comunidades tradicionais e demais coletivos estarão denunciando todo um sistema de opressão que avança pelos territórios, evidênciando e levando ao público a necessidade de responsabilização e participação popular"
Nos dias 27 e 28 de setembro, a programação segue com a ‘Jornada Somos a Floresta’, um espaço de mobilização popular para aprofundar o entendimento às populações tradicionais e à sociedade em geral, da região do Baixo Amazonas, sobre a COP e a Cúpula dos Povos, fortalecendo o compromisso com a justiça climática. A atividade convida representantes de organizações comunitárias, movimentos sociais, governo, universidade e sociedade civil para discutir problemas cruciais relacionados à crise climática e seus impactos sobre os territórios e populações locais, garantindo a participação ativa na apresentação de soluções e decisões sobre a política de clima.
“A Jornada Somos a Floresta é uma estratégia política, construída pelo Comitê Gestor do Fundo Dema, com parcerias, de democratizar o diálogo e a possibilidade de prestar informações para a sociedade e aos grupos apoiados pelo Fundo Dema e outros, sobre questões que interessam à vida das pessoas em suas comunidades e a Amazônia como um todo, incluindo a COP e a Cúpula dos Povos. Essa é uma oportunidade de dialogar sobre as mudanças climáticas e os danos que provocam à vida de todos nós, ao meio ambiente e à região, e também a possibilidade de as comunidades poderem dizer que elas são as respostas e que já fazem iniciativas de enfrentamento às mudanças climáticas. A seca, por exemplo, tem feito as pessoas perderem sua produção, sua renda, impactando na segurança alimentar. Os povos indígenas, quilombolas, agroextrativistas, agricultores familiares e outras populações tradicionais têm apresentado iniciativas em seus territórios, trazendo respostas e soluções a este contexto”, pontua Graça.
No domingo (27), mulheres de diversas comunidades e municípios da região metropolitana de Santarém farão um ‘Cortejo das Mulheres Contra a Violência’, na orla da cidade, denunciando o aumento de casos de feminicídio na região e todas as formas de opressão e violência contra a mulher, que também são diretamente afetadas pelas mudanças climáticas.
Além dos espaços de debate, uma feira agroecológica reunirá a produção de mulheres trabalhadoras rurais e agroextrativistas dos município de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos, durante os três dias de programação, instalada na praça Tiradentes, com o objetivo de fortalecer a autonomia econômica das mulheres do campo e da floresta, promovendo a segurança alimentar e nutricional, com a comercialização de produtos agroecológicos, sem o uso de veneno. A feira acontecerá nos dias 26, 27 e 28 de setembro, no período de 7h30 às 17h.
O evento se conecta a um calendário de lutas mais amplo, sendo parte do processo de preparação para a COP 30 e para a Cúpula dos Povos. O objetivo é mostrar ao mundo que as soluções para a crise climática não estão nas mãos das grandes corporações, mas sim nos territórios e na sabedoria ancestral dos povos da Amazônia e dos demais estados e regiões. A Jornada é organizada pela parceria entre a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a FASE, o Fundo Dema, a Terra de Direitos, a Diocese de Santarém, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém (STTR), Tapajós de Fato, Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA) Muiraquitã da Universidade Federal Oeste do Pará (UFOPA).
Semana da Amazônia
Além do Tribunal, a programação prevê momentos de formação, cultura e mobilização popular. A expectativa é de ampla participação de movimentos locais, juventudes, comunidades tradicionais, lideranças indígenas e camponesas, reforçando Santarém como território de resistência.
A Jornada já começa a pulsar. Como parte da pré-agenda, no Dia da Amazônia (5 de setembro) será realizado o ato político “Cuidar da Casa Comum e da democracia é luta de todo dia” integrado ao 31º Grito dos Excluídos e Excluídas, antecipando as atividades do 7 de setembro. A concentração será no Bosque Vera Paz, em Santarém, a partir das 17h30, mobilizando comunidades, juventude e movimentos sociais para anunciar que a Amazônia não está à venda e que seus povos resistem.
Ações: Biodiversidade e Soberania Alimentar
Eixos: Biodiversidade e soberania alimentar

