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Mais de uma centena de organizações reivindica protagonismo da sociedade civil no debate da COP do Clima


Em documento grupo classifica como alarmante a insuficiente adoção de medidas pelos governos para enfrentamento à crise climática.

Foto: Caetano Scannavino

Mais de uma centena de organizações sociais, coletivos e movimentos populares de diferentes campos de atuação na defesa dos direitos humanos reivindica protagonismo da sociedade civil nos debates em torno da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a COP do Clima. A agenda a ser realizada em Belém (PA), em novembro de 2025, possui alta relevância global, de expectativa de novas metas e compromissos assumidos pelos países para redução dos gases de efeito-estufa e de enfretamento da crise climática. 

Em uma Carta política o coletivo denuncia que é alarmante que os países adotem insuficientes medidas de enfrentamento da crise climática, dada a gravidade da crise e urgência na implementação de robustas ações. “Investimentos que alimentam as mudanças climáticas têm crescido nos últimos anos e políticas de proteção aos povos indígenas, populações tradicionais têm sido desmanteladas e suas lideranças, ameaçadas e assassinadas”, aponta um trecho da Carta Política. A Terra de Direitos assina a Carta.  

O documento foi lido e entregue no dia 02 de agosto, em Brasília (DF), para a Secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Ana Toni; Secretária-Executiva da Secretaria Geral da Presidência da República, Kelli Mafort e demais representantes do governo federal durante ato realizado na Plenária Nacional da Cúpula dos Povos Rumo à COP 30 -Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. O documento está aberto para novas adesões.  

Com participação de organizações e movimentos populares de todo país, a plenária reafirmou a necessidade de assegurar a participação popular no debate e tomada de decisão sobre a política climática. “Soluções reais são urgentes e a sociedade civil de todo mundo deve ser protagonista em todos os espaços de debate desta agenda. A COP 30 precisa representar um ponto de virada neste cenário, e endereçar as ações necessárias para o enfrentamento da crise climática”, reforçam. 

O insuficiente diálogo do poder público com a sociedade foi objeto de crítica das organizações durante a Cúpula da Amazônia, em agosto de 2023.  Poucos meses depois, as organizações sociais entregaram em Dubai, durante a 28ª Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP), uma carta para o presidente Lula. No documento as signatárias destacam novamente que o processo de debate e construção da política climática deve necessariamente envolver as organizações e povos da floresta, um dos mais diretamente afetados pela crise climática.  

Veja abaixo a carta completa.  

  

Cúpula dos Povos Rumo a COP30 - Carta Política e Adesão de novas organizações e movimentos 

Movimentos sociais e populares, coalizões, coletivos, redes e organizações da sociedade civil do Brasil vem, desde agosto de 2023, construindo um processo de convergência entre organizações e movimentos de mulheres, sindicais, indígenas, agricultores/as familiares e camponeses, quilombolas, de povos e comunidades tradicionais, de povos tradicionais de matriz africana, negras e negros, juventudes, inter-religiosos, ambientalistas, trabalhadores/as, midialivristas, culturais, estudantes, de favelas e periferias, LGBTQIAPN+, de pessoas com deficiência, de direitos humanos, de defesa da infância, adolescência e intergeracional, das cidades, do campo, das florestas e das águas, rumo a realização da Cúpula dos Povos como espaço autônomo à COP 30 da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), na Amazônia. 

Nosso objetivo é fortalecer a construção popular e convergir pautas de unidade das agendas: socioambiental, antipatriarcal, anticapitalista, anticolonialista, antirracista e de direitos, respeitando suas diversidades e especificidades, unidos por um futuro de bem-viver. No contexto atual, mais do que nunca, precisamos avançar em espaços coletivos que defendam a democracia e a solidariedade internacional, enfrentem a extrema direita, o fascismo, os fundamentalismos, as guerras, a financeirização da natureza e a crise do clima. 

O clima extremo, as secas, as cheias, os deslizamentos de terras e as falsas soluções climáticas servem como instrumento de aprofundamento da desigualdade e das injustiças ambientais e climáticas, principalmente nos territórios, e atingem de forma cruel aqueles e aquelas que menos contribuíram para a crise climática, ecológica e civilizatória. 

A insuficiência de medidas para conter tais crises é alarmante. Países e tomadores de decisão têm se omitido ou apresentado soluções absolutamente ineficientes colocando em risco a meta de 1,5º do Acordo de Paris. Investimentos que alimentam as mudanças climáticas têm crescido nos últimos anos e políticas de proteção aos povos indígenas, populações tradicionais têm sido desmanteladas e suas lideranças, ameaçadas e assassinadas. 

Soluções reais são urgentes e a sociedade civil de todo mundo deve ser protagonista em todos os espaços de debate desta agenda. A COP 30 precisa representar um ponto de virada neste cenário, e endereçar as ações necessárias para o enfrentamento da crise climática. 

É preciso rever o modelo econômico vigente e eliminar a produção e queima de combustíveis fósseis, responsável por mais de ⅔ das emissões que provocam o aquecimento global, bem como implementar políticas para o desmatamento zero. Urge acordos internacionais por uma transição energética justa, a começar pelos mais ricos, além da responsabilização dos impactos causados pelas corporações transnacionais do agronegócio, da mineração, do setor energético, imobiliário e de infraestrutura, que hoje significam ameaça às populações locais. 

É urgente que se intensifique a luta contra o crime organizado, grupos paramilitares e mercadores de carbono, que vem se instalando de forma crescente em diversos territórios. Que combata as ameaças e ofereça proteção e garantia de direitos aos defensores ambientais e de direitos humanos, com atenção a ratificação do Acordo de Escazú e outros de suma importância. 

É fundamental que ocorra uma transição justa, popular e inclusiva; o direito à terra e território por meio da reforma urbana, agrária e fundiária; a demarcação, titulação e regularização dos territórios indígenas, quilombolas, pesqueiros e tradicionais; o estabelecimento de sistemas alimentares onde a soberania alimentar seja o foco, com fomento à agroecologia, à valorização da produção familiar, camponesa e da pesca artesanal, da economia indígena, solidária e feminista; o reconhecimento da natureza como sujeito de direitos; a proteção das áreas oceânicas, de terras raras e maretórios; a proteção da biodiversidade; a geração de trabalho decente, emprego e renda e de políticas de cuidado; a consolidação do direito à cidade com políticas urbanas como políticas ambientais; a implementação de políticas específicas para atingidos climáticos; de acesso a água potável e saneamento básico; de prevenção e adaptação climática, em especial nas periferias urbanas e nos territórios indígenas e tradicionais; a erradicação do racismo ambiental e estrutural, e da violência contra as mulheres e meninas, diferentes culturas e visões de mundo; promoção da comunicação livre e da diversidade cultural; políticas para a juventude negra viva; e medidas de reparação e democratização do financiamento climático justo, fora do mercado de carbono e de endividamento, com estruturação de fundos e governança pelas comunidades. 

Demandamos que o governo brasileiro exerça papel de liderança na agenda socioambiental adotando essas políticas, indispensáveis para o avanço da justiça climática, a partir do Sul Global. 

Porém, nada disso irá ocorrer sem uma ampla pressão e participação efetiva da sociedade civil. Convocamos as organizações, redes, coletivos e movimentos sociais dos mais diversos segmentos para construir a Cúpula dos Povos rumo à COP 30, que seja capaz de mobilizar a opinião pública, fortalecer a democracia participativa e popular, denunciar e barrar retrocessos, bem como pressionar tomadores de decisões no Brasil e no mundo. 

Brasília, 02 de agosto de 2024. 

Assinam: 
Amigas da Terra Brasil 
Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) 
ANA Amazônia 
Aliança Amazônia Clima 
Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) 
Articulação de Mulheres do Amapá 
Assembleia Mundial da Amazônia (AMA) 
Articulação Nacional dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente do Brasil 
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) 
Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) 
AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia 
Associação Alternativa Terrazul 
Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé 
Associação dos Povos Indígenas da Terra Indígena São Marcos 
A Vida no Cerrado (AVINC) 
Campanha Cerrado 
Campanha Nacional em Defesa do Cerrado 
Cáritas Brasileiras 
Central Única dos Trabalhadores (CUT) 
Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA) 
Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas 
Centro de Cultura Negra do Maranhão 
Central de Movimentos Populares (CMP) 
Coalizão Nacional de Juventudes pelo Clima e Meio Ambiente (CONJUCLIMA) 
Coalizão Negra por Direitos (CND) 
Coletivo de Juventudes Guardiões do Bem Viver 
Coletivo Pororoka 
Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (CONFREM) 
Comissão Pastoral da Terra (CPT) 
Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) 
Comitê COP 30 
Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente a Mineração 
Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) 
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) 
Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) 
Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará – MALUNGU 
Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA) 
Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas do Estado do Tocantins (COEQTO) 
Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) 
Coordenadora Indígena da Amazônia Brasileira (COIAB) 
Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) 
COP das Baixadas 
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) 
Engajamundo 
FASE – Solidariedade e Educação 
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Pará (FETAGRI – PA) 
Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (FEPIPA) 
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais (FBOMS) 
Fórum Carajás 
Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense (FMAP) 
Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS) 
Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (FONSANPOTMA) 
Fórum Paraense de Economia Popular e Solidária 
Fórum Paraense de Segurança Alimentar Sustentável 
Fórum Social Panamazônico (FOSPA) – Brasil 
Frente Brasileira contra o acordo União Europeia Mercosul 
Geledés – Instituto da Mulher Negra 
Greenpeace Brasil 
Grupo Ambientalista da Bahia (GAMBA) 
Grupo Carta de Belém (GCB) 
Grupo de Mulheres Brasileiras (GMB) 
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) 
Grupo Resistência Amazônica 
Instituto de Estudos Socioambientais (IESA) 
Instituto de Estudos da Religião (ISER) 
Instituto de Mulheres Negras do Amapá (IMENA) 
Instituto EQÜIT 
Instituto Omó Nanã 
Instituto Regenera 
Instituto Universidade Popular (UNIPOP) 
Jubileu Sul Brasil 
LACLIMA 
Marcha Mundial das Mulheres (MMM) 
Mídia NINJA 
Movimenta Feminista Negra 
Movimento Camponês Popular (MCP) 
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) 
Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) 
Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) 
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) 
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) 
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) 
Movimento Escazú Brasil 
Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) 
Movimento Nacional das Catadoras e Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) 
Movimento Negro Unificado (MNU) 
Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) 
Movimento Tapajós Vivo (MTV) 
Movimento Xingu Vivo para Sempre 
Núcleo de Mulheres de Roraima (NUMUR) 
Observatório da Governança das Águas 
Observatório do Clima (OP) 
Observatório Nacional de Justiça Socioambiental (OLMA) 
Organização dos Seringueiros de Rondônia 
Processo de Articulação e Diálogo (PAD) 
PerifaConnection 
Plataforma Dhesca Brasil 
Processo de Comunidades Negras (PCN) 
Rede Amazônica 
Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA) 
Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA) 
Rede Brasileira pela Integração dos Povos (REBRIP) 
Rede Cerrado 
Rede de Fundos Comunitários da Amazônia 
Rede de Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade (REJUMA) 
Rede de ONGs da Mata Atlântica 
Rede dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil (RPCT) 
Rede Eclesial Pan Amazônica (REPAM Brasil) 
Rede Maniva de Agroecologia 
Rede por Adaptação Antirracista 
Rede Vozes Negras pelo Clima 
Serviço Inter-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia (SINFRAJUPE) 
Teia Carta da Terra Brasil 
Terra de Direitos 
350.org 
União Nacional dos Estudantes (UNE) 
União Nacional por Moradia Popular (UNMP) 
Via Campesina Brasil 

  

 

 



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