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Petição pelo Rio Tapajós, primeiro passo para algo mais além


Manuel DutraFonte: blog Manuel Dutra

A entrega da Petição ao governo do Estado não foi uma festa. Mas o começo de uma ação prolongada. A carta ao governador dá um prazo de quatro meses para a obtenção dos primeiros resultados concretos da pesquisa. Se positivada, como é quase certo, haverá um dado científico sobre o qual se deverá trabalhar. Até junho, com a contribuição de pesquisadores da UFOPA e da UFPA e provavelmente do Instituto Evandro Chagas, com recursos do Estado, é possível chegar a resultados que possam nortear ações futuras. Até lá, os signatários da petição irão esperar. O que menos esperam é o silêncio do governo. A partir de junho, novas ações serão propostas à sociedade do Oeste e de todo o Pará.
 
Em nome do governo do Pará o vice-governador Helenilson Pontes, que assumirá a plenitude do cargo a partir de abril, recebeu ontem, em Santarém, uma carta assinada por mais de 1.700 pessoas, exigindo imediata pesquisa a fim de quantificar os níveis de contaminação do Rio Tapajós, um dos maiores da Amazônia, e de seus principais afluentes da imensa província aurífera do Oeste do Estado.

Na carta-petição pública, os signatários recordam que “nas décadas de 1970 a 1990 a atividade garimpeira na bacia Tapajós/Jamanxim foi responsabilizada pelo fenômeno de grave contaminação desse grande rio, proveniente do desmanche de barrancos e despejo de produtos químicos, entre eles o mais venenosos dos metais pesados, o mercúrio; naquele período cerca de 500 dos 800 quilômetros da extensão do Tapajós tiveram suas águas turvadas, mudando de coloração, conforme amplamente noticiado na época”.

E acrescentam: “Agora, do ano passado a este início de 2014, são cada dia mais frequentes informações e notícias sobre a possível mudança de coloração do Rio Tapajós entre a sua foz, diante de Santarém, e seu curso médio, acima da cidade de Itaituba. Retornam, assim, as lembranças daquele período, quando as praias ficaram enlameadas, cardumes foram contaminados conforme atestado na época, pessoas adoeceram em virtude da contaminação da cadeia alimentar aquática, e a população do Vale inteiro assistiu a seu belíssimo rio transformar-se em um corpo estranho em pleno coração do Pará e da Amazônia”.

Por isso pedem que seja realizada imediatamente, no momento em que os rios do Oeste estão cheios, uma pesquisa de campo a ser efetivada por pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará e da Federal do Pará, e possivelmente também do Instituto Evandro Chagas, para responder a estas perguntas básicas: O Rio Tapajós e seus principais afluentes estão sofrendo processo de contaminação por elementos físicos e químicos estranhos à sua composição hídrica natural? Esta pergunta se desdobra (em caso afirmativo): Que elementos contaminantes são estes? Quais os níveis da presença de elementos estranhos nas águas do rio? Há riscos para a saúde animal e humana? Há contaminação da fauna aquática, especialmente das espécies mais consumidas na região? Há contaminação do plâncton e da cadeia alimentar? Já existe contaminação humana? Há mudança de coloração das águas do Tapajós? A pesquisa de campo, a depender dos pesquisadores, poderá repetir-se nos meses de setembro e outubro, quando os rios estão baixos.

Além da necessidade imediata de saber-se se as águas de quase metade do Pará estão contaminadas, o que os signatários da petição querem é que se comece a pensar no vasto interior paraense, que se pense nas formas de economia que serão ou seriam gravemente afetadas pelo possível comprometimento de um dos mais importantes eixos da economia regional, que é o Tapajós.

A região vive uma completa irracionalidade, com o poder público e o setor privado realizando investimentos no turismo, por exemplo, ao mesmo tempo em que ambos incentivam a atividade nos garimpos que, por natureza, são altamente poluentes. Suja-se lá em cima e chama-se turistas para visitarem aqui em baixo. Milhares de empregos estão em jogo.

Não se trata de colocar em jogo a situação dos milhares de trabalhadores dos garimpos. O que é preciso é repensar essa atividade, oferecendo à massa daqueles trabalhadores alternativas sustentáveis de sobrevivência ao mesmo tempo modernizando as formas de extrair o ouro.

A região Oeste do Pará, com todo o seu potencial, precisa ser pensada como um todo, com seus rios, suas florestas, as suas estradas, os seus portos e as suas planejadas hidrelétricas, assim como com os seus campos de soja e milho. O que hoje se verifica na região são formas de economia vale-tudo, em que o capital de fora chega e dá as cartas à revelia e com a conivência das autoridades locais.

Dessa forma, a entrega da carta-petição ao governo do Estado é um primeiro passo a fim de mobilizar as forças pensantes do Oeste e do Pará inteiro, no sentido de construir um futuro diferente do que hoje se verifica.

A petição dá um prazo de quatro meses para a obtenção dos primeiros resultados concretos da pesquisa. Se positivada, como é quase certo, haverá um dado científico sobre o qual se deverá trabalhar. Até junho, com a contribuição de pesquisadores da UFOPA e da UFPA e provavelmente do Instituto Evandro Chagas, é possível chegar a resultados que possam nortear as ações futuras. Até lá, os signatários da petição irão esperar. O que menos esperam é o silêncio do governo. A partir de junho, novas ações serão propostas à sociedade do Oeste e de todo o Pará.

 

 

 



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