Incidência Crítica da Sociedade Civil na 13ª COP da Biodiversidade busca influenciar posicionamento oficial do Brasil
Terra de Direitos
As negociações internacionais avançam nos primeiros dias da 13ª Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica - COP 13 CDB. O evento que detalha as definições da Convenção – que é o tratado da Organização das Nações Unidas para defesa e conservação da biodiversidade - está sendo realizado entre os dias 4 e 17 de dezembro, em Cancun, no México.
Um informe realizado por integrantes do GT-Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia, da Via Campesina Brasil e do Grupo Carta de Belém, que participam desde o início do evento, aponta que “as negociações e compromissos internacionais assumidos pelo governo brasileiro acontecem normalmente, apesar da crise institucional entre os poderes e de ruptura democrática no País”.
Segundo o relato, as discussões relacionadas à biologia sintética - uma área de estudos que altera o código genético de organismos vivos existentes e produz organismos que não existiriam na natureza sem a tecnologia -, ganham novo fôlego nessa rodada de discussões internacionais. Diante da possibilidade de, após mais de 11 anos de discussão, finalmente se chega a um consenso sobre a definição sobre o conceito de biologia sintética, o que destrava os debates sobre como tratar o tema, estabelecendo regulamentação, assim como ocorre com os transgênicos. Esse tema tem sido tratado de maneira controversa e com posições variadas de diferentes países.
A incidência dos representantes do GT-Biodiversidade da ANA, da Via Campesina Brasil e Grupo Carta de Belém apontam para a necessidade de discussão e definição do significado e da aplicação da temática dentro da Convenção da Diversidade Biológica. O documento também recomenda que nesse debate o Brasil se posicione pela aplicação do princípio da precaução – que estabelece que não sejam adotadas medidas enquanto não houver estudos ou certeza sobre os potenciais riscos de determinadas atividades.
A questão de insetos polinizadores também será tema de decisões no escopo da Convenção da Diversidade Biológica. O tema trata do impacto do uso de agrotóxicos sobre populações de abelhas e outros insetos polinizadores, o que prejudica a reprodução das plantas e cultivos agrícolas.
No entanto, há a tendência de direcionar essa discussão para um debate relacionado à precificação da natureza através da utilização de métricas (formas de medição para precificação) da biodiversidade usadas no estudo TEEB (Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade). Exemplo disso é a menção de polinizadores no esboço de decisão, que são apresentados como "prestadores de serviços ecossistêmicos" e remetem a uma figura paga. Além disso o projeto de decisão, em discussão na CDB, não menciona as responsabilidades sobre o impacto à biodiversidade (morte de abelhas e outros polinizadores e perdas socioeconômicas pela não polinização de cultivos) ou mesmo sobre a sua associação com o uso de transgênicos.
Durante as discussões da COP, o Brasil também tem apontado a possibilidade de contribuir na restauração de biomas e de paisagens, vista na CDB como uma das principais estratégias de conservação. No entanto, a estratégia brasileira - que é defendida como algo positivo internacionalmente -, tem uma intencionalidade muito diferente a nível nacional, pois iniciativas legais buscam flexibilizar ainda mais os mecanismos do Novo Código Florestal, como no caso do PL 4508/2016 de autoria da Deputada Shéridan (PSDB-PR) para permitir pastagem em área de reserva legal, considerando como atividade de manejo sustentável.
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Posicionamento da sociedade civil brasileira
Representantes do Ministério das Relações Exteriores receberam, no último dia 17, a Carta Aberta de Recomendações da Sociedade Civil na 13ª Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica. O documento foi elaborado por diversas entidades e movimentos sociais durante uma oficina preparatória realizada no dia 5 de novembro, em Brasília, e apresenta ao menos 14 recomendações de posicionamento do governo nas negociações da COP.
A carta também denuncia retrocessos à conservação da biodiversidade derivados de cortes orçamentários, fragilização de políticas públicas e criminalização dos movimentos sociais. Além disso, o documento aponta negligências incompatíveis com os compromissos assumidos pelo Brasil, como a aprovação da Lei 13.123 - conhecida como Lei da Biopirataria -, os retrocessos causados pelo Novo Código Florestal e ausência de análises de riscos para a liberação comercial de agrotóxicos e transgênicos no país.
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Ações: Biodiversidade e Soberania Alimentar
Eixos: Biodiversidade e soberania alimentar