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O jeito Salles de fiscalizar


Mudanças nas regras ambientais, diálogo com empresas madeireiras e grileiros de terra, alteração em cargos de fiscalização: o jeito com que Ricardo Salles gesta o ministério responsável pela proteção ambiental no Brasil é uma piada.

Além de falar abertamente sobre “passar a boiada” durante a pandemia de Covid-19 e “ dar de baciada a simplificação” – leia-se a fragilização – da política ambiental brasileira, Ricardo Salles também tenta interferir nas operações de fiscalização a favor dos desmatadores.

O maior exemplo disso pode ser observado nas interferências do ministro na Operação Handroanthus, uma operação da Polícia Federal do Amazonas responsável pela maior apreensão de madeira ilegal, na história da polícia. Foram 226.760 metros cúbicos de toras apreendidos (cerca de R$ 130 milhões) entre a fronteira do Pará com Amazonas.

A Operação Handroanthus tem revelado não só a exploração de madeira em áreas de conservação, como também a grilagem de terras e a conivência de órgãos públicos em meio às irregularidades.

Confira o passo a passo dessa operação e acompanhe a movimentação de Salles:

3 de março de 2020

Presidente do Ibama, Eduardo Bim, deixa de exigir que o órgão autorize a exportação de cargas de madeiras retiradas das florestas do Brasil.  Mudança na regra abre brecha para exportação de madeira ilegal.

20 de dezembro de 2020

Polícia Federal do Amazonas apreende quase 44 mil toras de madeira explorada ilegalmente ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns, na divisa entre o Pará e Amazonas. Apreensão fez parte da Operação Handroanthus, da Polícia Federal com o Ministério Público Federal. Maior parte da madeira apreendida teria sido extraída pela empresa Rondobel, de áreas das famílias Dacroce e Christofolli.

21 de janeiro de 2021

Juiz Federal  de Belém determina prisão e multa a policiais do Amazonas que estivessem trabalhando na Handroanthus, por entender que Polícia Federal descumpria decisão anterior que determinava a devolução de balsas para uma empresa transportadora e a mudança de competência do caso para o Pará.

28 de janeiro de 2021

Empresários da Rondobel se reúnem com o então diretor-geral da Polícia Federal, Rolando Alexandre, para tratar da Operação

17 de março de 2021

Ministro Ricardo Salles recebe em seu gabinete, em Brasília, um grupo de madeireiros de Santa Catarina. Entre as pessoas presentes, estava Rafael Dacroce, vereador de Palmitos (SC) e irmão de Francine Cella Dacroce, proprietária das Fazendas Francine I e II, de onde saiu grande quantidade de madeira apreendida na Operação.

31 de março de 2021

Ministro Ricardo Salles visita a região de Cachoeira do Aruã, em Santarém (PA), onde foi extraída madeira ilegal apreendida pela Operação da PF. No local, Salles é recebido pelos grileiros de terra que tiveram a madeira apreendida.

7 de abril de 2021

Ricardo Salles volta a se reunir com empresários alvos da Operação Handroanthus, em Santarém, e se compromete a fazer gestões para liberação da madeira apreendida em até uma semana.

14 de abril de 2021

Superintendente da Polícia Federal no Amazonas, o delegado Alexandre Saraiva envia ao STF denúncia-crime contra Ricardo Salles, onde acusa o ministro por organização criminosa, advocacia administrativa e obstrução de fiscalização na Operação Handroanthus. Por erro no envio, uma nova denúncia é protocolada em 16 de abril.

15 de abril de 2021

Um dia após denunciar Salles, superintendente da Polícia Federal é exonerado do cargo 

29 de abril de 2021

Salles chama de “lixo” e “patética” revista que noticiou relação do ministro com madeireiras e nega envolvimento com empresários



Ações: Biodiversidade e Soberania Alimentar, Conflitos Fundiários

Eixos: Biodiversidade e soberania alimentar