Organizações brasileiras e internacionais divulgam manifesto em defesa da pesquisa sobre agrotóxicos
Lizely Borges
Um conjunto diverso e amplo de organizações brasileiras e internacionais manifestam, em nota pública divulgada nesta quinta-feira (07), defesa da livre expressão intelectual e científica e em solidariedade aos cientistas que alertam à sociedade sobre os perigos dos agrotóxicos no mundo.
Conhecidos como WhistleBlowers científicos, pesquisadores que alertam a sociedade sobre riscos à saúde, meio ambiente e povos sobre produtos como cigarros, amianto e agrotóxicos, têm sido, ao longo da história, alvo de perseguições e tentativas de desqualificações de suas produções científicas. "Manifestamos ainda repúdio à todas as formas de violência perpetradas contra aqueles e aquelas que atuam no sentido da defesa, veiculação e produção de conhecimentos e saberes livres, voltados às necessidades dos povos, aos bens comum e às relações harmoniosas entre os seres humanos e destes com as outras formas de vida que compõem a natureza de nossa casa comum," aponta um trecho da nota.
O documento faz referencias à atuação das corporações dos agrotóxicos para anular os impactos dos alertas realizados pelos cientistas. A atuação das empresas vai desde divulgação massiva de peças publicitárias de contra narrativa aos alertas científicos, como ataques pessoais aos pesquisadores, como "ataques à sua honra e dignidade, o desmerecimento de sua família de origem humilde e as acusações ideológicas que a rotulavam de “comunista”, de “pseudocientista a atuar contra os interesses do país”, alerta o manifesto. As organizações anunciam que as ações de pesquisação serão denunciadas aos órgãos públicos de cada país.
O documento foi produzido no âmbito do I Seminário Internacional e III Seminário Nacional Agrotóxicos, Impactos Socioambientais e Direitos Humanos, realizado em Goiás, em dezembro de 2018.
Veja abaixo a íntegra da nota.
Manifesto em defesa da Livre Expressão Intelectual e Científica e em solidariedade aos cientistas que alertam à sociedade sobre os perigos dos Agrotóxicos no mundo – WhistleBlowers Científicos
1. Ao longo da história da humanidade, os cientistas que alertam a sociedade sobre os riscos à saúde e ao ambiente acerca de produtos perigosos, tais como o cigarro, amianto e agrotóxicos, têm sido alvo de diversas perseguições e tentativas de desmerecimento de suas publicações e trabalhos científicos.
2. Raquel Carson, bióloga que marcou época quando da publicação dos efeitos danosos dos agrotóxicos à saúde e ambiente, por meio do livro “Primavera Silenciosa”, foi vítima de inúmeros ataques, na busca da desqualificação de seu trabalho, promovidos pela indústria química e pelo aparato do Estado Americano, em conluio com os interesses econômicos e geopolíticos dominantes da indústria pós-guerra.
3. A divulgação massiva de inúmeras peças publicitárias pagas pelas corporações dos agrotóxicos visando anular os impactos do alerta anunciado pela cientista; os ataques à sua honra e dignidade, o desmerecimento de sua família de origem humilde e as acusações ideológicas que a rotulavam de “comunista”, de “pseudocientista a atuar contra os interesses do país”, estão registradas em livros, filmes, documentários e papéis oficiais.
4. Atualmente, a literatura científica internacional atenta para estes fatos e inicia o registro desta forma de Inquisição aplicada ao conhecimento científico, que afronta os Direitos Humanos, apontando os danos que se entendem às sociedades que não enfrentam de forma adequada esta questão, e que não atuam no sentido de garantir de forma efetiva a proteção de seus cientistas ameaçados, os chamados WhistleBlowers científicos.
5. Assim, segue-se após Raquel Carson (EUA), casos emblemáticos mais recentes, como: Andrés Carrasco, Damian Verzenasci e Fernando Cabaleiro (AR), Tyrone Hayes (EUA), Magda Zanoni, Paulo Kageyama, Lia Giraldo, Debora Calheiros, Raquel Rigotto, Luís Cláudio Meireles, Vandereley Pignati, Vicente Almeida e Fernando Carneiro (BR), entre outras vítimas explícitas que aqui ilustram fração mínima dos inúmeros casos de whistleblowing científicos observados no âmbito dos alertas relacionados aos perigos dos agrotóxicos e transgênicos, para a saúde e ambiente.
6. Dessa forma, e entendendo que podem ser considerados como whistleblowers científicostodos pesquisadores, estudantes, profissionais da área médica e agronômica, jornalistas, gestores, lideranças sociais e até mesmo operadores do direito, que se fundamentam no conhecimento científico para alertar a sociedade sobre os riscos e perigos dos agrotóxicos e transgênicos, concluímos afirmando que:
7. Nós, participantes do I Seminário Internacional e III Seminário Nacional Agrotóxicos, Impactos Socioambientais e Direitos Humanos, manifestamos compromisso de ação e reclamo de ações dos poderes constitucionais de nossos países, em defesa da livre expressão intelectual e científica, especialmente no contexto dos agrotóxicos, transgênicos e novas biotecnologias, conforme expresso no art. 19 da Declaração dos Direitos Humanos em relação à livre expressão das ideias e a difusão de informações, como também no art. 5, IX da Constituição Federativa do Brasil, relativamente à livre expressão intelectual e científica.
8. Manifestamos ainda repúdio à todas as formas de violência perpetradas contra aqueles e aquelas que atuam no sentido da defesa, veiculação e produção de conhecimentos e saberes livres, voltados às necessidades dos povos, ao bem comum e às relações harmoniosas entre os seres humanos e destes com as outras formas de vida que compõem a natureza de nossa casa comum.
Goiás/GO, 05 de fevereiro de 2019
ABA – Associação Brasileira de Agroecologia – Brasil
ABRASCO – Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Brasil
ABJD – Associação Brasileira de Juristas pela Democracia
Acción Ecológica – Ecuador
Asamblea Por la Vida sin Agrotoxicos – Argentina
Asociación por la Justicia Ambiental – Argentina
Asociación Civil Capibara. Naturaleza, Derecho y Sociedad – Argentina
Asociación Agroecológica Oñoiru/Yerba Mate – Paraguay
APREA – Associação Paranaense dos Expostos ao Amianto – Brasil
Banquetaço – Brasil
Campaña Sin Maíz No Hay País – México
Campanha Nacional em Defesa do Cerrado – Brasil
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida – Brasil
Cátedra Libre de Soberanía Alimentaria de la Facultad de Medicina – Escuela de Nutrición. (CALISA) Universidad de Buenos Aires – Argentina
CEAM – Centro Especializado de Atendimento à Mulher – Goiás/Brasil
Celeiro da Memória – Brasil
CODAPMA – Coordinadora en Defensa de la Autodeterminación de los Pueblos y del Medio Ambiente – Bolivia
Coletivo A CIDADE QUE QUEREMOS- Porto Alegre
Colectivo Ecuador Libre de Transgénicos – Ecuador
Colectivo de Comunidades Mayas de los Chenes – México
Colectivo MaOGM – México
Comissão Dominicana de Justiça e Paz – Brasil
Huerquen, Comunicación en Colectivo – Argentina
Coordinadora por una Vida Sin Agrotoxicos en Entre Rios. Basta es Basta – Argentina
CONAMURI – Organización de Mujeres Campesinas e Indígenas – Paraguay
CPT – Comissão Pastoral da Terra – Brasil
Diocese de Goiás – Brasil
EDUCE – Educación, Cultura y Ecologia – México
Espacio Multidisciplinario de Interacción Socio Ambiental (EMISA). Universidad de La Plata – Argentina
EUROPEAN CONSUMERS – Italia
Feria del Dulce, Tinun, Campeche – México
FETRAF-GO – Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar
FILAPI – Federación Latinoamericana de Apicultores
Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos – Brasil
Fórum Baiano de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos – Brasil
Frades Dominicanos – Brasil
Fraternidade da Anunciação – Brasil
GREENPEACE – Brasil
GWATÁ – Núcleo de Agroecologia e Educação do Campo – Brasil
Instituto de Salud Socioambiental de la Facultad de Ciencias Médicas de la Universidad Nacional de Rosario – Argentina
Instituto Medicina Regional – Área Biología Molecular (Universidad Nacional del Nordeste). Chaco – Argentina
KAAB NA’ALON – Alianza Maya por las Abejas de la Península de Yucatan – México
KÁA NÁN IINÁJÓOB – Guardianes de las Semillas – México
Levante Popular da Juventude – Brasil
Madres de Barrio Ituzaingo Anexo – Argentina
MAELA – Movimiento Agroecológico de América Latina y el Caribe – México
Magnífica Mundi/FIC – UFG – Brasil
MCP – Movimento Camponês Popular – Brasil
Movimento Ciência Cidadã
MST – Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra
Multisectorial contra el Agronegocio – la 41 – Argentina
Multisectorial Paren de Fumigar Santa Fe – Argentina
NATURALEZA DE DERECHOS – Argentina
NAVDANYA – India
Observatorio del Derecho a la Ciudad – Argentina
OBTEIA – Observatório de Saúde dos Povos do Campo, da Floresta e das Águas – Brasil
PUBLIC EYE – Suíza
RAP-AL – Red de Acción en Plaguicidas y sus Alternativas para América Latina – Uruguay
RAP-AL – Red de Acción en Plaguicidas y sus Alternativas para América Latina – Brasil
RAPAM – Red de Acción sobre Plaguicidas y Alternativas en México – México
Red de Acción en Plaguicidas/Alianza por una Mejor Calidad de Vida – Chile
Red de Médicxs de Pueblos Fumigados – Argentina
Red Salud Popular Dr. Ramón Carrillo. Chaco – Argentina
Red Latinoamericana de Abogados y Abogadas em Defensa de la Soberanía Alimentaria
RENACE – Red Nacional de Acción Ecológica – Argentina
RENAMA – Red Nacional de Municipio por la Agroecologia – Argentina
Red de Guardianes de Semillas – Ecuador
Robin Canul/Periodista – México
SEMILLAS DE VIDA – México
Sociedad Argentina de Apicultores – Argentina
Sociedad Cooperativa Miel de Abeja de Maxcanú/Yucatan – México
Terra de Direitos – Brasil
UCCSNAL – Unión de Científicos Comprometidos con la Sociedad y la Naturaleza de América Latina UNORCA – Yucatan – México
Foto: Marcos Santos/ USP Imagens
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