COP do Clima e o fascismo ambiental do Brasil
Pedro Martins
Após onze meses de retrocessos socioambientais alimentados pelo discurso violento do presidente Jair Bolsonaro, o governo brasileiro se apresenta na 25ª Conferência das Partes sobre Clima, que começou nesta segunda-feira (2) em Madri, na Espanha. O ministro de Meio Ambiente, Ricardo Salles, já marcou sua presença no primeiro dia do evento e destacou o interesse brasileiro em dar sustentabilidade econômica à população da Amazônia. Sem diálogos democráticos com a sociedade civil durante este ano, o ministério de Ricardo Salles oferece o que tem: fascismo em sua face ambiental.
Assim como o presidente Bolsonaro – que semelhante aos ditadores dirige seu discurso de ódio a grupos da sociedade civil nacional, como os movimentos sociais do campo e as Organizações Não Governamentais – os ministros do governo também têm atacado aqueles que desempenham um papel importante no cenário de desmonte de políticas públicas.
A distorção dos fatos em veículos de imprensa reforça o fascismo (ou espectro fascista do governo) também na questão ambiental. A mobilização de fake news sobre as causas do aumento das queimadas e do desmatamento em 30% alimentam a desmoralização do trabalho social e da luta popular.
O caso mais recente de criminalização da Brigada de Incêndio de Alter do Chão, em Santarém, Oeste do Pará – comentado pelo presidente em seu Twitter – destaca a sistematização de ataques a defensores de direitos humanos no Brasil, principalmente na Amazônia, envolvendo polícia, judiciário e redes sociais.
O governo do Brasil publicizou em agosto de 2019 discurso racista contra Povos Indígenas, Comunidades Quilombolas e Tradicionais, colocando-se em oposição ao reconhecimento de seus territórios, contradizendo a fala do Ministro de Meio Ambiente na COP 25.
Interessado em duas principais estratégias – abertura para instrumentos de mercados e maior financiamento para conservação de florestas –, o Brasil na COP está realmente inclinado a favorecer estratégias antagonistas a população amazônica: a estruturação de mercado de emissões ampliaria o lastro – ou seja, a base real – da financeirização dos bens comuns. Salles busca possibilidades de maior financiamento por Fundos Internacionais que seriam mais manejáveis pelo governo.
Vejamos ainda que a presidência tem intenções de reverter recursos de políticas ambientais de combate ao desmatamento para pagamento de indenização para desapropriações dentro de unidades de conservação. Dentre essas e outras possibilidades de apoio ao setor empresarial.
O poder de negociação do Brasil sobre as metas climáticas e instrumentos no âmbito do Acordo de Paris, de toda forma, será testado durante o evento na Espanha. Tendo ameaçado unidades de conservação e paralisado a demarcação de terras indígenas, o governo utilizará a Amazônia como barganha. Sem reconhecer as demandas que vem dos povos da Amazônia, o Estado exerce seu poder colonizador sobre este espaço.
As expectativas sobre a COP 25 em Madri seguirão até 13 de dezembro. O ministro, que permanecerá o evento inteiro, segue nas tratativas num cenário global em que os países signatários e o setor privado buscam, antes de tudo, novas e mais avançadas formas de lucrar com falsas soluções climáticas.
Acesse aqui o material especial produzido pela Terra de Direitos para a COP do Clima (em inglês e espanhol)
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Tags: COP25,COP do clima,Retrocessos na política ambiental,Brasil na COP 25,COP de Madri,COP do Chile