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Justiça pelas vidas quilombolas: nota da Terra de Direitos sobre o assassinato de Bernadete Pacífico


A Terra de Direitos manifesta intenso repúdio e consternação pelo assassinato da defensora de direitos humanos e liderança do Quilombo Pitanga dos Palmares, a Yalorixá Maria Bernadete Pacífico, 72 anos. A liderança quilombola de Simões Filho, região Metropolitana de Salvador (BA), foi executada por dois homens na noite da última quinta-feira (18) por lutar em defesa de seu território, ancestralidade e identidade.  

Bernadete foi coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e em uma das últimas declarações denunciou  à presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, as ameaças e violências contra a comunidade quilombola. Na ocasião - julho de 2023 - ela destacou a luta por justiça pela morte do filho, Flávio Gabriel dos Santos, o Binho do Quilombo, que foi assassinado em 2017 com 14 tiros, por homens armados também na área do quilombo – e até hoje o crime segue sem resposta.  

Em seu discurso para a Ministra Weber, declarou: "É injusto. Recentemente perdi outro amigo e uma amiga em um quilombo. É o que nós recebemos: ameaças, principalmente de fazendeiros, de pessoas da região". A injustiça que cerceou a vida de Bernadete é a mesma que vitimou 169 defensores e defensoras de direitos humanos no Brasil nos últimos 4 anos, como aponta a pesquisa ‘Na Linha de Frente: violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil’, produzido pelas organizações Terra de Direitos e Justiça Global. 
 
A morte de Bernadete é a materialização triste e real da situação enfrentada por quem defende direitos e causas ligadas ao direito a terra, ao território e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.  

Bernadete foi e continuará sendo uma destemida liderança quilombola e incansável defensora de direitos humanos. Sua vida foi dedicada à causa da justiça, da igualdade e da preservação das raízes culturais e tradicionais de seu povo. Sua coragem inspirou todos aqueles que tiveram o privilégio de cruzar seu caminho, e sua voz ressoará eternamente nas lutas por um mundo mais justo e compassivo. 

A perda de Bernadete Pacífico é uma ferida profunda em nossa sociedade, um lembrete sombrio das ameaças enfrentadas por aqueles que alçam a voz contra a opressão e a injustiça. Expressamos nossas mais sinceras condolências à família, amigos e à comunidade quilombola de Pitanga dos Palmares, que ela representava com tanta dignidade e força.  

Diante dessa perda trágica, nos somamos na cobrança de celeridade das investigações, responsabilização dos executores e mandantes do assassinato e no combate à impunidade de casos de violência contra defensoras (es) de direitos humanos. Que a justiça e o Estado Brasileiro possam garantir mudanças nas políticas de resolução de conflitos fundiários e de proteção para quem luta por direitos.  

Justiça pelas vidas quilombolas! 



Ações: Defensores e Defensoras de Direitos Humanos, Quilombolas

Eixos: Terra, território e justiça espacial